quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A ORIGEM QUE METE ESPÉCIE

Uma das coisas boas em se estar desempregado é o facto de se ter muito tempo livre.
Uma das coisas más em se ter muito tempo livre é que, provavelmente, se está desempregado.
À parte disso podemos filosofar à vontade sem medo de estarmos a perder tempo ou trabalho!
E eis que em época conturbada de crise mundial, vejo-me, por falta de trabalho e excedente de ócio, a descobrir a essência das divisões humanas.
Pense-se bem: o que é que realmente separa os seres humanos?
Existem, claro, muitas "teorias divisionárias", na esmagadora maioria dos casos elaboradas por empregados ricos sem muito tempo, nem cérebro, para pensar: Ele é pretos de um lado e brancos do outro, ele é ricos por cima e pobres no seu lugar, ele é homem que é homem e mulher - que se é ele é bicha, ele é obesos e anoréxico... enfim, um sem número de inutilidades resumidas nos tentilhões de Darwin.
Mas o que dizer de uma teoria verdadeiramente revolucionária, desenvolvida por uma desempregada pobre?
Pois bem, na continuação do trabalho de Darwing, aqui está o meu singelo contributo:
A ORIGEM QUE METE ESPÉCIE
1. Mete espécie pensar que o Homo Sapiens Sapiens pensa.
2. À parte disso, ele diferencia-se somente numa coisa: na escova de dentes!
a) Qual cor de pele qual carapuça!
A divisória é feita da seguinte forma: dois grandes ramos com dois grandes sub-ramos.
3. Ramo divisório único da Humanidade:
a) Há dois tipos de pessoas: aquelas que, ao fim de uma semana de uso, têm a escova de dentes como que saída das trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Haja dente, cavidade e tártaro para esfarelar escovas dessa maneira!
Estas pessoas compram a escova, com os pelinhos todos direitinhos, tal pelo de gato eriçado, e assim que a enfiam na boca (o verbo mais apropriado é mesmo enfiar) a escova sai tal gata em telhado de zinco: completamente esparrachados, com os pelitos todos para os lados.
Aliás, tenho para mim que a palavra "esparrachada" foi inventada única e exclusivamente para este fim: para descrever a escova do grupo dos "Esparrachadores".
b) Depois temos o outro grupo, o antagónico, que só troca de escova porque não pode trocar de vida. A sua escova de dentes estará sempre pronta a ser reembalada e posta outra vez à venda, que outro comprador não dará conta do uso, tal será ainda a firmeza masculina do pêlo da escova feminina.
4. Sub-ramo divisório único da Humanidade:
Cozinhar pode ser uma arte, uma tortura, uma chatice ou, simplemente, uma questão de fome. Seja como for, cozinha-se num local convencionado a chamar-se de cozinha. Na cozinha, a cozinhar, há, mais uma vez, dois tipos de pessoas:
a) O grupo daqueles que terminam de cozinhar com a cozinha arrumada. Ou seja, aqueles que conseguem cozinhar, lavar, limpar, enxugar, ralar, cortar, picar, bater ovos em castelo e arrumar tudo ao mesmo tempo. Quando dizem "O jantar está na mesa" querem dizer "a cozinha está um brinco".
b) O segundo grupo, como já entenderam, são os javardos, aqueles para quem cozinhar é incompatível com qualquer outra actividade que não seja sexo em cima da tábua do pão.
O indivíduo deste grupo não consegue descascar uma cebola sem sujar pelo menos dois terços do chão da cozinha, 3 panelas, 8 facas, 2 panos da louça e, eventualmente, entornar em cima do fogão o molho de tomate que estava a refogar.
5. Conclusão geral da Lei Diniana: bem vistas as coisas, mete espécie uma espécie com tantas diferenças inventadas pela boca, sendo esta, a boca, a origem de tudo realmente capaz de nos dividir!