sábado, 28 de março de 2009

Porcos, Cultos e Maus

Para além das grandes coisas que me irritam a mim e a todas as misses Universo (a guerra no Mundo, a fome na Etiópia, os órfãos nos asilos e coisas do estilo) há pequenas coisas que me irritam mais que as próprias misses Universo.

Uma delas diz respeito às pessoas cultas e estúpidas.

Gozem o que quiserem, mas a questão é que eu, pecadora perante vós me confesso, gosto de pessoas cultas! Gosto de quem lê livros, de quem discute sociologia, de quem tem opinião sobre tudo e mais alguma coisa, de quem entende de música ou vê cinema. Gosto de quem gosta de poesia e de outras coisas acabadas em “ia”.
E gosto de pessoas inteligentes. Acima de tudo, pessoas inteligentes.

Para tal basta ver as duas características que me mais me fascinam num homem: inteligência e sentido de humor (para além de uma carinha larocas, preferencialmente parecida com a do Banderas, e de um cheiro que não me traga à memória nenhum equídeo, claro está).

Detesto os palhaços, que riem a torto e a direito das desgraças alheias. Mas adoro aquelas pessoas que conseguem transformar a desgraça, sua e alheia, numa ironia ridiculamente cómica, gosto de quem me faz rir inteligentemente. Gosto de conversar com pessoas que se me apresentem como um desafio intelectual, que me “dêem luta” e por quem eu crie, regra geral inconscientemente, uma relação de admiração. Gosto do intelecto no seu estado puro e acho que é no humanismo e no sentido de humor que ele encontra a sua prova derradeira. Fascina-me quem me fizer rir num funeral sem que para tal atire uma tarte de maçã à cara do defunto. É fácil ser-se inteligente com um teorema matemático: “basta” resolvê-lo. Mas tente ser inteligente com uma boa acção ou com uma piada...

Pois bem, a D. Emengarda, alentejana de gema, dona dos seus orgulhosos 80 anos, apesar de personagem acabada de criar no meu imaginário a quem nunca ensinaram a escrever a não ser o desenho do seu nome, não deixa de ser uma das minhas heroínas. Tenho para mim que a escrita em si nada tem nada a ver com a inteligência! A inteligência, essa, é que pode, ou não, ter a ver com a escrita.

Hão-de pensar que eu estou confundindo inteligência com cultura. Não, não estou. Gosto de pessoas cultas, mas só gosto de pessoas cultas inteligentes. Se separarem a cultura da inteligência, eu fico do lado dos inteligentes que nunca leram um livro. Desprezo, mais que tudo, os cultos estúpidos. São as pessoas mais perigosas e insuportáveis do mundo!
E são altamente nocivos, estes cultos maus: pavoneiam pelas ruas a efémera cultura lambida no último livro comprado em saldos na feira. Nada aprendem sem letras e nada fazem para que os outros aprendam com elas.

A D. Emengarda aprendeu a desenhar algumas letras entre o parto da porca, o amanho da terra, a cozedura do pão, a lide da casa e a mamada do filho. É a sábia que de todos leva o maior quinhão da minha mais sincera admiração! E não se pense que escrevo isto por comiseração à senhora que, coitadinha, apesar de analfabeta tão bem cumpriu o seu papel na vida. Nada disso! Admiro a Sr. Emengarda porque no alto das suas 8 décadas a vejo sábia na inteligência que teve para fazer tudo, para conseguir tudo, para aprender tudo, para pôr todos os dias as migas na mesa. E no fim, quando a terra lhe chegar à pele, saberá dela o que ela lhe ensinou.
A quantos de nós será a morte tão natural como deve ser?...
No entanto, enquanto cá anda, que a morte mafarrica não a há-de levar já, a D. Emengarda ri-se, desdentada, dos maus tratos que deu aos dentes e da vida que ainda não a conseguiu gelar por falta de lenha ou de homem.

Gosto de pessoas que me excitem intelectualmente, seja com um texto da Beauvoir ou com um raio de sol laranja-avermelhado que entrou descuidadamente pela fresta da janela.

Gosto da inteligência. Gosto do riso. E gosto dos bácoros que as porcas da D. Emengarda pariram.

terça-feira, 24 de março de 2009

Turistas de Lisboa

(Divagações de uma tarde turística na Baixa lisboeta)
Os turistas nórdicos são aqueles que no pico do Inverno andam de t-shirt e que aos primeiros ténues raios de Sol primaveril são facilmente confundidos com lagostas andantes de duas pernas.
Os turistas americanos são os mais floridos e confiantes. Demonstram grande sentimento de segurança. Acredita que por eles não fazerem a mínima ideia onde estão, a Al-Qaeda jamais os descobrirá aqui.
O turista alemão é o mais indeciso: calça sandálias porque deve ter calor, por cima de meias, porque deve ter frio, imagino eu... que na minha curta imaginação não consigo encontrar outra utilidade para a pobre peúga que não seja a de aquecer os pezinhos.
O turista espanhol é como aquele parente que nos visita mas que entra pela porta dos fundos porque tem confiança para tal... está em casa mas não manda nela... fala alto mas não assusta ninguém. E não usa peúgas debaixo das sandálias, o que, a meu ver, mostra alguma sanidade mental.
O turista francês é aquele que só fala francês... mesmo quando julga falar inglês.
E quanto aos turistas brasileiros são aqueles que não se destacam particularmente da multidão lusa, a não ser por terem mais bisavós portugueses que os próprios portugueses.
Ah... como eu gosto dos turistas de Lisboa!

domingo, 22 de março de 2009

Auto-retrato

Auto-retrato
Sou simples como o vento:
Tenho tempestades!

sábado, 21 de março de 2009

A POESIA

A poesia quer-se
No barco, no carro, na mota.
Ou nas asas de uma gaivota.
(pelo Dia Mundial da Poesia)

quinta-feira, 12 de março de 2009

LUZIA

Há menos de uma hora atrás estava eu na paragem do autocarro quando se aproxima-se num andar inseguro uma jovem mulher... bonita, de óculos escuros, de bengala na mão. Cega. Oriento-a para a paragem. Pergunta-me quando vem o próximo autocarro para a Praça do Chile. Seis minutos - respondo. Estranho, é brasileira. Não que eu não saiba existirem brasileiras cegas, mas porque é difícil encontrar uma invisual brasileira caminhando pelas ruas de Lisboa.

Metemos conversa uma com a outra. Passa o meu autocarro. Deixo-o ir. Fico com a conversar. Ela tem uma voz invulgarmente suave, parece a personificação verbal da bondade, a voz do nosso anjo bom... e ainda por cima com sotaque brasileiro.

Rapidamente surge o autocarro dela, que também serve para mim. Entramos as duas. Falamos mais. Conta-me nos dois minutos do percurso que perdeu a visão há coisa de um ano. Trabalhava para uma senhora e quando começou a cegar foi posta na rua!

A pena, raiva e impotência tomou conta de mim! Quero reinventar o mundo!

Quando queremos viagens longas, elas são curtas. Fiquei embalada na sua voz suave. Ao sair deu-me o número de telefone que apontei toscamente na mão e já na porta do autocarro respondeu-me "Luzia" quando lhe perguntei o nome.

Luzia... ficou este nome alguns minutos a vaguear-me estranha e suavemente pelo imaginário sonoro.

E esqueci completamente o desespero que minutos antes sentia, parada na paragem do autocarro, a pensar onde ir arranjar dinheiro para pagar as contas deste mês.

Afinal, eu vejo as contas para pagar...

terça-feira, 10 de março de 2009

Os americanos não são bons de cama!

Alguém ainda tem que me explicar aquela coisa patológica que os personagens das séries norte-americanas têm em relação às relações.

Os gajos são bons a fazer filmes, honra lhes seja feita: boa iluminação, bons sets, bons efeitos, boa montagem, bons actores, tudo caro e topo de gama... e, no entanto, paira sempre no ar aquela sensação de que o dinheiro não chegou para o psicólogo.

Há nessas séries sempre alguém que gosta de alguém mas por alguma razão, que ninguém entende muito bem, não se resolve a assumir a relação ou, pelo menos, a dar uma queca com esse alguém de quem gosta sem que os complexos de culpa nos venham depois atulhar os 5 episódios seguintes.


Eu juro que não estou interessada em ver cenas de sexo. Muito menos americanas. Por mim podem cortar as personagens com sentimentos profundos: eles são bons a dar porrada, a olhar pelo microscópio, a perseguir, de salto alto, os criminosos mais maléficos para a sociedade, a acordar impecavelmente maquilhados e a usar óculos de sol. Mas não são bons a ter sentimentos profundos!

Quer dizer, profundos eles até sabem ser.... só não sabem muito bem gerir é essa "profundidade".

E se resolvem arriscar e pôr "a manhã seguinte" vemos sempre a senhora em questão levantar-se com o pudor máximo do lençol a cobrir-lhe "as vergonhas" - e isto depois de, desculpem-me a linguagem, ter feito um broche ao gajo.

Uma mulher que faz um broche a um gajo, ainda para mais um bom broche, levanta-se altiva pela manhã, exibindo o corpo e orgulhosa da boca!

Mas as mulheres e homens americanos parecem nascer com traumas porque os pais se irão separar quando eles tiverem dois anos ou porque a mãe teve um namorado punk, ou porque o filho pode ficar altamente traumatizado se vir um homem em cuecas lá em casa, ou porque a namorada foi comprar fósforos e, em vez disso, comprou um isqueiro...

Claro que temo o outro lado, moderno, das séries do tipo "Boston Legal" (que, aliás, gosto imenso) ou O Sexo e a Cidade. O primeiro é uma assumida comédia assente em piadas sexistas, não há quaisquer lugar para traumas, quanto mais para sentimentos, e a segunda só fez sucesso porque focou precisamente a questão do sexo como se fosse algo de outro mundo as mulheres falarem de sexo entre si. As conversas entre mim, a Cátia, a Tatiana e a Maria teriam oferecido aos americanos séries de sucessos para os próximos 20 anos (e isto se cortarmos as cenas das descrições explícitas)!

Exijo mais franceses em Holy...wood!

domingo, 8 de março de 2009

ÀS MULHERES DA MINHA VIDA

As mulheres da minha vida são:
Carinhosas



Destemidas




Sábias





Genuínas






Mouras







Frontais






Lampionas






Ambíguas






"Vermeerianas"





Alegres








Meninas






Amigas




Sensuais




Despenteadas






São o meu D(i)NA


POR TODOS OS DIAS DO ANO!
POR TODAS AS MULHERES DO MUNDO!
(fotos de Dina Paulista)