segunda-feira, 20 de julho de 2009

Portugal no Espaço!

No dia em que faz 40 anos do famoso passo pequeno para o homem mas grande para a humanidade, eu ficoi a saber que esta brava nação que me fez teve uma contribuição vital para o sucesso da Apollo 11: a bandeira americana que todos viram ser espetada no árido solo lunar naquele longínquo dia/noite de 69 foi costurada pela D. Maria, uma então emigrante portuguesa que trabalhava na casa de confeções que recebeu a encomenda estatal da importante bandeira.

A quem possa interessar, atualmente a D. Maria vive recatadamente em Sousa, sozinha (o marido não deve ter aguentado à pressão de viver com tal celebridade) e à pergunta do jornalista "E como se sente?" só tem a dizer “Ah... foi há tanto tempo!... Mas fiz uma bainhazinha assim (mostrou com as mãos) e depois enfiei assim para fazer um cozezito” (com aquele sotaquezzzizzito de Diácono Remédios que acusa mais ou menos a precedencia geográfica da senhora)...

E assim, Portugal, país de curta memória mas bravas costureiras, conquista agora o Big Brother com um refeirito impondo cagadelas na Casa Branca e uma Mulher fazendo um coz na Lua americana.

Ah, Nação Valente e Imortal! :)

sábado, 18 de julho de 2009

Crónicas de um Desemprego - III

Esta semana de desempregada terminou com saldo positivo. Senão vejamos:

- 600 euros por uma tradução de 50 páginas de russo em 27 horas consecutivas, sem direito a comer ou dormir, para o Teatro Municipal de Almada (da peça "A Compota Russa"),

- Um crédito de 107 no IVA do último trimestre

e, o melhor de tudo,

- Um abraço do Eduardo à porta da Portugal Telecom.

Desempregos destes não é para todos!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Crónicas de um Desemprego - II

Ora vejamos... o meu primeiro dia de acção para reverter a situação não correu propriamente como eu esperava.

De manhã enviei o meu curriculo (em russo, note-se bem) para 6 agências russas de tradução. Responderam-me duas, sendo que numa delas o gajo não disse nem bom dia, nem boa tarde, nem sequer escreveu o nome... aquela má-educação que sempre fica bem num idiota que necessita de um tradutor para sites de casino. Pois bem, o idiota mandou uns textos e perguntou: quanto cobras por cada? Eu respondi “5 euros, se realmente houver muitos textos, como o senhor diz” (imagine-se... eu tratei-o por senhor).

A resposta dele foi: já tenho um luso-falante que me faz por 4 dólares.

Mas então porque raios o gajo pôs um anúncio a dizer que procurava tradutores para português e me fez perder tempo com ele? (no meu caso tempo não é dinheiro, pois em tempo de desemprego nada do que a gente tem, e muito menos o tempo, é dinheiro. Mas é tempo. E é meu!).

A menina da outra agência foi mais simpática: depois de eu ter enviado todo o meu curriculo e uma carta enorme de apresentação ela manda-me um “proforme” qualquer que eu tenho que preencher e no qual só não me perguntam mesmo é a cor das cuecas e o ano em que perdi a virgindade! (pra que se saiba, eu não perdi nada! Foi uma queca muito bem achada e com localização precisa!)

Mas falava eu da agência: eles querem morada, telefones, faxes, como traduzo, quanto traduzo, onde traduzo, porque traduzo, o que quero por traduzir, se trabalho de dia, se trabalho à noite, se trabalho aos fins-de-semana... enfim... como se eles tivessem tantos trabalhos em português para traduzir. Eu até pensei entrar no jogo e dar-lhes o que eles querem (ou pensam que querem) mas no final pedem-me para traduzir um texto como teste... no entanto esqueceram-se de enviar o tal texto.

Ah... e muito atencionsamente a menina explicava, depois do texto omisso, que nada daquilo garante que me aceitem. Tudo bem, eu entendo, mas para que querem eles a minha vida esparrachada no papel se ainda não sabem se me aceitam?

Devolvi a carta dizendo que falta o tal teste. Ainda não obtive resposta!

Ainda da parte da manhã fui imprimir o meu currículo em russo e pus pernas ao caminho: resolvi ir directamente à Casa da Língua e Cultura Russas oferecer os meus préstimos. Quem sabe...

Fui a pé, de Campolide ao Martim Moniz, para poupar no bilhete do autocarro.

Ao chegar ao Rossio, o cheiro vindo das tascas a fritarem bifanas em molho suculentamente calórico e colesterólico deram-me uma tremenda fome. Dei-me conta que tinha tomado um pequeno-almoço muito fracote. Mas aguentei-me estoicamente... não podia gastar o pouco dinheiro que tinha comigo. Pensei que em breve voltaria para casa e depois lá faria qualquer coisa quase tão suculenta como uma bifana a estalar na manteiga... tipo um ovo estrelado com um bocado de massa cozida meio rançosa que me sobrou de anteontem...

E quando estou mesmo na Praça da Figueira, a preparar-me para virar para a esquerda, já para entrar no Martim Moniz, o telefone toca. Era a Lena, a russa, com uma voz desesperada a perguntar onde é que eu estava. Quando lhe respondi que estava no centro da cidade, a caminho da Casa da Rússia para pedir trabalho e que tinha que me despachar pois eles estavam quase a fechar, ela começa a implorar-me para eu ir ter com ela ali à rua dos Douradoures, ao notário, pois precisava urgentemente que eu assinasse uma tradução pela qual a embaixada russa queria cobrar 180 euros (duas folhas) para autenticar. (permitam-me um aparte: VÃO ROUBAR A MÃE DELES!!!)

O meu dilema durou menos de um segundo: ir pedir trabalho agora que estou decidida ou ajudar a amiga?

Em vez de voltar para a esquerda, tomei a direita, atravessei a praça da Figueira e entrei na rua dos Douradores. A Lena achou que foi milagre eu encontrar-me tão perto no momento em que ela necessitava. Quanto a mim, tentei explicar-lhe que esse milagre estava a custar-me muito caro e que, milagre por milagre, bastaria Deus ter-me deixado uma nota na mesa da cozinha a dizer: “Dina, no dia 6 de Junho de 2009, antes de os notários fecharem, vai à rua dos Douradores ajudar a Lena” – preferencialmente em itálico, que é uma inclinação que fica sempre bem nas cartas de Deus. Escusava de me fazer passar pelo sufoco de ano e meio de desemprego e muito desespero!

Bem... lá assinei a coisa e em vez dos 180 euros que a embaixada pedia, a Lena gastou comigo 4 euros e qualquer coisa pelo rodízio que me pagou. Talvez tenha perdido um trabalho, mas ganhei um almoço. Bem vistas as coisas, até que o balanço foi positivo.

Coitada da Lena... a vida também não lhe corre nada bem. Desde que foi mandada embora do Castelo não consegue vender mais nada, apesar de ter, mesmo assim, um ponto de venda muito bom. Lá no Miradouro de Santa Luzia.

Eu gosto da Lena.

Depois de regressar tive mais uma brilhante ideia: escrever uma carta a propor às agências de turismo russas que me enviem turistas para eu depen... ops... passear pela cidade e mostrar as coisas belas que Lisboa tem para oferecer!

A carta ficou por enviar, pois tenho que a reler amanhã, com cabeça fresca, para ver se não vai com muitos erros.
À tardinha o Carlitos telefonou. Assim, sem mais nem menos, para saber como é que eu estava. A minha alma ficou parva. Eu não me recordo a última vez que alguém me tenha telefonado assim, sem um pedido desesperado no auscultador para me fazer. Sinceramente estranhei alguém lembrar-se simplesmente de mim e dizer-me "lembrei-me de ti e resolvi telefonar-te". Excepção seja feita para uma chamada do Eduardo à uns dias e para o Hugo (de quem, a propósito, ando a estranhar o silêncio. Telefonei-lhe hoje e a voz da menina Telecom diz que o número não está atribuído. Tenho que ver o que se passa). Bem, mas se o Carlitos me volta a telefonar só porque se lembrou de mim, ainda eu me habituo mal.

Após este espasmo de espanto tentei sentir-me útil a mim mesma e diminuir o monte de roupa no cesto passando a ferro umas quantas peças, mas à quarta t-shirt sentia-me já extenuada! Como é possível alguém dizer que os trabalhos de casa são “coisa leve”?! Mil vezes alombar com os meus queridos Fresnels de 5000 watts para cima de um monte de espinhos a fim de iluminar um ouriço-caixeiro a copular que engomar um cesto de roupa e lavar o amontoado de louça que já tenho suja na cozinha... suja.
A propósito, como será que os ouriços copulam?

E assim, com esta dúvida vital para o desenvolvimento da humanidade, termina o meu primeiro dia de acção anti-depressão-de-desempregada-e-sentimento-de-inutilidade-completa-de-formada-que-nem-para-lavar-escadas-consegue-trabalho!

Anoiteço um pouco desanimada. Mas o mundo que me espere e a roupa do cesto que não fuja, que amanhã é outro dia!!

PS – Olha, o idiota escreveu-me agora um outro mail, se é que se pode chamar aquilo de mail: “mas os meus preços de qualquer modo não lhe convêm” – sem mais nada, nem ponto de interrogação, nem letra maiúscula no início da frase, nem nome no fim. Esta frase seca é todo o mail. Há pachorra pra isto? Sinceramente não sei o que pretende. Eu dei-lhe o meu mail porque ele pediu, mas deixei claro que não vou morrer a traduzir para um casino a um euro a folha. E se o dólar baixa ainda corro eu o risco de lhe pagar a ele em euros. E ele agora que quer? Que eu baixe o preço ou está a perguntar-me se eu, quem sabe, entretanto não mudei de ideias? Vá-se lá entender esta gente... Como eu já disse, amanhã é outro dia. Amanhã ele terá a minha resposta. A noite é boa conselheira... dizem.

domingo, 5 de julho de 2009

Crónicas de um Desemprego - I

Segundo um certo provérbio português, quem tem amigos não morre na prisão.

Pois eu, se fosse presa hoje, morreria.

Amanhã... amanhã vou mudar a minha vida!