quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Anicídio

Outro ano como este e eu corto-lhe os pulsos!!!

Surpresa!

Vejam lá que coisa estranha povoca grande azáfama na imprensa portuguesa: chove e faz mau tempo no Inverno!!

Por aqui se vê os governantes que merecemos: o elementar apanha-nos sempre de surpresa...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal

É Natal... bah!!!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

De África

Estou em Angola, pelo terceiro ano consecutivo... mas já quase de regresso ao Inverno ibérico.

Pena de não ter conseguido escrever nada daqui... o tempo não deixou. A falta dele...

Voltei a falar com as minhas luzinhas e a sentir a chuva quente na pele. Que bom!

Gosto muito de África!

domingo, 11 de outubro de 2009

Tarde de Domigo

Passei a tarde com alguns amigos do tempo de Moscovo que não via há anos.

Felicidade por revê-los.

Vazio por rever-me...

Este vazio... este eterno vazio cheio de nada...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Ciência... para o bem da humanidade!

Tenho para mim que existem certos investigadores que estão para a ciência assim como a "Branca de Neve" está para o cinema! Ver as suas teses publicadas nos jornais "Expresso de Felgueiras" e "Paróquia de Alfena" é o seu grande objectivo profissional.

Senão vejam alguns exemplos:

1. "Investigadores da Universidade de Coimbra descobrem que o orgasmo é relevante na satisfação sexual da mulher!"

Daaaaa....!! E como descobriram finalmente tal mistério?? Tiveram um bug que lhes abriu a página do manual de Planeamento Familiar do Portal da Juventude? Ou têm sexos com as colegas mulheres e depois, cientificamente apetrechados de raciocínio lógico, perguntaram-lhes "Então meninas, esses gemidos eram o quê?", ao que as meninas respondem "Opá... eram o orgasmo! E são muito relevantes!"

Pimba! E faz-se a descoberta!


2.
"Investigadores da Universidade do Porto descobriram que pôr a carne de vaca a marinar inibe a formação de substâncias cancerigenas", sendo o título da notícia "Marinadas de cerveja reduzem risco de cancro".
E então e a vinha-d'alhos??? Isto cheira-me a estudo patrocinado pelos alemães, com vaca holandesa!! Não tarda nada os nossos vinicultores descobre que o vinho trata o pé de atleta!

Imagino o cheiro a marinada naquele laboratório...

3.
"Investigadores da Universidade Estatal da Pensilvânia descobriram uma minúscula bactéria que foi colocada há 120 mil anos sob três quilómetros de gelo e devolveram-lhe a vida."
Pelo amor de Deus!! Alguém que me explique como é que a ciência devolve a vida a um organismo invisivel a olho nu - que ainda por cima é "minúsculo", morto e enterrado a 3000 metros de profundidade em infértil solo gelado há 120 mil anos e não descobre um medicamento eficiente para travar as hemorroidas??

Pfff... e ainda falam mal do nosso Sistema Nacional de Saúde!


4.
"Investigadores da Universidade de Bristol (Reino Unido) chegam à conclusão de que o efeito de álcool leva a que as pessoas achem as outras mais interessantes".

Grande coisas! Esta até eu, que não sou cientista, posso explicar!! Principalmente depois daquela noite de litro e meio de carrascão em que adormeci ao lado de um gajo super giro e acordei na manhã seguinte ao lado do Dr. Frankenstein!

Jurei nunca mais beber carrascão quando estiver com homens ao pé!


5.
"Investigadores da Universidade de Copenhaga, liderados por Tom Gilbert, descobrem numa caverna em Oregon, nos EUA, o excremento humano mais antigo do mundo"

Com todo o meu mais profundo respeito pela sereia de Anderson e pelo reino da Dinamarca, onde há mais coisas entre o céu e a terra do que aquela com que sonha a nossa vã filosofia, tenho para mim que o sr. Tom Gilbert está a pôr dinheiro dos contribuintes ao bolso, tal como o sr. da Branca de Neve o fez.

Então vai uma equipe da Universidade de Copenhaga de avião, pressupõe-se, dar uma voltinha ao "Orégão", do outro lado do Atlântico, para andar a analisar... merda?!?

Eu já tinha ouvido falar de drogas que põem as pessoas a estacionar carros e a assaltar velhinas mas a investigar merda, confesso que é a primeira vez!

Depois disto, até que a vinha-d'alhos anti-cancerígena me parece ser séria e científica...

6.
"Investigadores da Universidade de Ohio, nos EUA descobriram que é mais fácil efectuar a electrolise a partir do mijo para obter hidrogénio (o combustível do futuro) do que a partir da água. A ureia decompõe-se utilizando uma tensão de 0,37 volts, menos que os 1,23 volts necessários para decompor a água."

E como é que isso aconteceu? Trocaram o tubo de ensaio pelo penico e mijaram lá para dentro sem querer?
Sem comentários...

Conclusão:
Desconfie da grandeza utilitária da descoberta científica tipo 'enche-choriços' do jornal "Metro" quando esta começar pela frase "Investigadores da universidade de X descobriram que..." !
Nas universidades bebe-se vinho, faz-se sexo, toma-se drogas e pagam-se propinas. De onde vem esta mania de lhes associar descobertas científicas?

sábado, 26 de setembro de 2009

Crónica de uma Estupidez Anunciada.

Era previsível. Sempre o foi: a estupidez anuncia-se de raiz e não é no tronco que se corta!

Eu tinha razão em não querer ir ao café ver ninguém, depois de o meu irmão ter telefonado para a minha mãe descer. Só fui porque ela me pediu com um "Dininha". Não resisto a nada quando me tratam por dininha...

E fui para quê? - Para ouvir dos seus lábios "Estou na dúvida... não sei se vou votar no Paulo Portas ou no Gerónimo de Sousa".

Achei que era uma daquelas piadas sarcásticas, nas quais eles é, ou melhor, costumava ser, bom. Estranhamente, hoje ele deixou, como que por magia, de ter piada. Nada nele foi engraçado... para o meu irmão de sangue, que nasceu do mesmo ventre que eu, que bebeu do mesmo leite que eu, que ouviu os mesmos choros abafados na noite que eu, que não comeu as pernas de frangos que eu comi porque eu era, e agora entendo que sempre fui, mais esperta e sempre o convencia que "da última vez foste tu que comeste a perna", o CDS e o PCP são iguais, só diferindo "na coisa da nacionalização das empresas".

Das duas uma: ou o meu irmão é estúpido ou devia ter comido mais pernas de frango em miúdo!

E tanto quanto eu sei, pernas de frango não criam trauma.

Note-se bem: não é o meu irmão, aparentemente de repente, ser da extrema direita que me põe neste estado de letagia chocante. Não! Isso poderia espantar-me, pôr-me fula, fazer debater e bater com a cabeça (dele, entenda-se) na parede. Mas se a sua escolha fosse fundamentada em algo mais sólido que "gostar da atitude do gajo" (?!?!?! aqui saí para ir vomitar) e estar rodeado de amigos importantes que votam à direita, eu respeitaria! E discutir com ele talvez até me desse "pica"!

Agora como discutir com uma pessoa que nos diz que a única diferença entre o PCP e o CDS-PP é "aquela coisa das nacionalizações das empresas"?... Este tipo de chico-espertismo abismalmente ignorante é daquelas coisas que me desarmam.

E mais me desarmou a cara da minha mãe, que ainda tentou balbuciar algo, não acreditando no que estava a ouvir do filho querido...

O que esperar das convicções de um gajo a quem eu, com 8 anos de idade, conseguia convencer do que tinha ou não levado à boca?

Igualmente não sabe o que leva agora à cabeça...

Estou em choque!

sábado, 12 de setembro de 2009

Lenin (ou Lenine para os puristas)

Hoje vi um rapaz com os seus 18-19 anos, no autocarro 18, a ler, muito concentrado, um dos tomos das obras completas de V. I. Lenin.

Nunca na vida tinha visto ninguém a ler um livro de Lenin num transporte público.

Na realidade, nunca tinha visto ninguém ler um livro de Lenin. Ponto.

domingo, 23 de agosto de 2009

Interregno no desemprego (que não é o mesmo que emprego)

O meu desemprego está a ter um interregno de um mês na Portugal Telecom (onde estou a fazer um trabalho de pesquisa e tradução até ao final de Agosto).

O que pagam é pouco, mas ver-me com trabalho de secretária, das 8 às 5 (para contrariar a canção da Parton que entrava às 9) é algo que vale a pena ser visto.

O problema é que fechada naquela sala o dia todo com um monte de nerds, no pico do Verão, não ajuda nada a conseguir sexo. De Inverno é muito mais difícil. Está estatisticamente provado!

Estou lixada... e mal paga no verdadeiro sentido da palavra.

Mas o projecto é giro e as miudas do grupo são porreiras.

Não me tem sobrado muito tempo para mim... por isso não tenho escrito. Mas que diferença faz?... de qualquer modo ninguém lê. :)

É bom escrever por escrever... liberta...

Mas sexo, que é bom, nada. Porra!!

sábado, 1 de agosto de 2009

Queca!

OK... A questão é a seguinte: tenho as hormonas a sairem-me pelos olhos!!!

Para os que não entenderam, cá vai por outras palavras: faz um século que não dou uma queca!!! (E as últimas que dei, há já tanto tempo, deixaram, qualitativamente falando, muito a desejar! :( Que veio biologicamente fazer a este mundo um homem com um pénis, duas mãos e uma língua que não satisfaz a parceira na cama? É com certeza um daqueles erros inexplicáveis da Mãe Natureza!... É o mesmo que ter um carro de bois, mas sem o boi: ocupa lugar e não sai do caminho)

Mas voltando a mim, faz tanto tempo a última queca que às vezes penso já não saber como fazer... que vergonha!!...

Apesar que, bem pensadas as coisas, acho que fazer sexo seja como andar de bicicleta: depois da primeira queda, os buracos na estrada deixam de ser um mistério e passam a ser um desafio!

OK.... Preciso urgentemente encontrar um gajo (que eu ainda faço parte daquele cada vez mais diminuto grupo dos heteros) que esteja disposto a ter uma noite de bom e descontraído sexo, com muitos sores e (bons) humores, sem inibições, sem compromissos, sem sífilis nem gripe A e, acima de tudo, sem cobraças ou sentimentos de culpa posteriores. E sem troca do número de telefone no fim!

Sexo por sexo, compreendem?

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Portugal no Espaço!

No dia em que faz 40 anos do famoso passo pequeno para o homem mas grande para a humanidade, eu ficoi a saber que esta brava nação que me fez teve uma contribuição vital para o sucesso da Apollo 11: a bandeira americana que todos viram ser espetada no árido solo lunar naquele longínquo dia/noite de 69 foi costurada pela D. Maria, uma então emigrante portuguesa que trabalhava na casa de confeções que recebeu a encomenda estatal da importante bandeira.

A quem possa interessar, atualmente a D. Maria vive recatadamente em Sousa, sozinha (o marido não deve ter aguentado à pressão de viver com tal celebridade) e à pergunta do jornalista "E como se sente?" só tem a dizer “Ah... foi há tanto tempo!... Mas fiz uma bainhazinha assim (mostrou com as mãos) e depois enfiei assim para fazer um cozezito” (com aquele sotaquezzzizzito de Diácono Remédios que acusa mais ou menos a precedencia geográfica da senhora)...

E assim, Portugal, país de curta memória mas bravas costureiras, conquista agora o Big Brother com um refeirito impondo cagadelas na Casa Branca e uma Mulher fazendo um coz na Lua americana.

Ah, Nação Valente e Imortal! :)

sábado, 18 de julho de 2009

Crónicas de um Desemprego - III

Esta semana de desempregada terminou com saldo positivo. Senão vejamos:

- 600 euros por uma tradução de 50 páginas de russo em 27 horas consecutivas, sem direito a comer ou dormir, para o Teatro Municipal de Almada (da peça "A Compota Russa"),

- Um crédito de 107 no IVA do último trimestre

e, o melhor de tudo,

- Um abraço do Eduardo à porta da Portugal Telecom.

Desempregos destes não é para todos!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Crónicas de um Desemprego - II

Ora vejamos... o meu primeiro dia de acção para reverter a situação não correu propriamente como eu esperava.

De manhã enviei o meu curriculo (em russo, note-se bem) para 6 agências russas de tradução. Responderam-me duas, sendo que numa delas o gajo não disse nem bom dia, nem boa tarde, nem sequer escreveu o nome... aquela má-educação que sempre fica bem num idiota que necessita de um tradutor para sites de casino. Pois bem, o idiota mandou uns textos e perguntou: quanto cobras por cada? Eu respondi “5 euros, se realmente houver muitos textos, como o senhor diz” (imagine-se... eu tratei-o por senhor).

A resposta dele foi: já tenho um luso-falante que me faz por 4 dólares.

Mas então porque raios o gajo pôs um anúncio a dizer que procurava tradutores para português e me fez perder tempo com ele? (no meu caso tempo não é dinheiro, pois em tempo de desemprego nada do que a gente tem, e muito menos o tempo, é dinheiro. Mas é tempo. E é meu!).

A menina da outra agência foi mais simpática: depois de eu ter enviado todo o meu curriculo e uma carta enorme de apresentação ela manda-me um “proforme” qualquer que eu tenho que preencher e no qual só não me perguntam mesmo é a cor das cuecas e o ano em que perdi a virgindade! (pra que se saiba, eu não perdi nada! Foi uma queca muito bem achada e com localização precisa!)

Mas falava eu da agência: eles querem morada, telefones, faxes, como traduzo, quanto traduzo, onde traduzo, porque traduzo, o que quero por traduzir, se trabalho de dia, se trabalho à noite, se trabalho aos fins-de-semana... enfim... como se eles tivessem tantos trabalhos em português para traduzir. Eu até pensei entrar no jogo e dar-lhes o que eles querem (ou pensam que querem) mas no final pedem-me para traduzir um texto como teste... no entanto esqueceram-se de enviar o tal texto.

Ah... e muito atencionsamente a menina explicava, depois do texto omisso, que nada daquilo garante que me aceitem. Tudo bem, eu entendo, mas para que querem eles a minha vida esparrachada no papel se ainda não sabem se me aceitam?

Devolvi a carta dizendo que falta o tal teste. Ainda não obtive resposta!

Ainda da parte da manhã fui imprimir o meu currículo em russo e pus pernas ao caminho: resolvi ir directamente à Casa da Língua e Cultura Russas oferecer os meus préstimos. Quem sabe...

Fui a pé, de Campolide ao Martim Moniz, para poupar no bilhete do autocarro.

Ao chegar ao Rossio, o cheiro vindo das tascas a fritarem bifanas em molho suculentamente calórico e colesterólico deram-me uma tremenda fome. Dei-me conta que tinha tomado um pequeno-almoço muito fracote. Mas aguentei-me estoicamente... não podia gastar o pouco dinheiro que tinha comigo. Pensei que em breve voltaria para casa e depois lá faria qualquer coisa quase tão suculenta como uma bifana a estalar na manteiga... tipo um ovo estrelado com um bocado de massa cozida meio rançosa que me sobrou de anteontem...

E quando estou mesmo na Praça da Figueira, a preparar-me para virar para a esquerda, já para entrar no Martim Moniz, o telefone toca. Era a Lena, a russa, com uma voz desesperada a perguntar onde é que eu estava. Quando lhe respondi que estava no centro da cidade, a caminho da Casa da Rússia para pedir trabalho e que tinha que me despachar pois eles estavam quase a fechar, ela começa a implorar-me para eu ir ter com ela ali à rua dos Douradoures, ao notário, pois precisava urgentemente que eu assinasse uma tradução pela qual a embaixada russa queria cobrar 180 euros (duas folhas) para autenticar. (permitam-me um aparte: VÃO ROUBAR A MÃE DELES!!!)

O meu dilema durou menos de um segundo: ir pedir trabalho agora que estou decidida ou ajudar a amiga?

Em vez de voltar para a esquerda, tomei a direita, atravessei a praça da Figueira e entrei na rua dos Douradores. A Lena achou que foi milagre eu encontrar-me tão perto no momento em que ela necessitava. Quanto a mim, tentei explicar-lhe que esse milagre estava a custar-me muito caro e que, milagre por milagre, bastaria Deus ter-me deixado uma nota na mesa da cozinha a dizer: “Dina, no dia 6 de Junho de 2009, antes de os notários fecharem, vai à rua dos Douradores ajudar a Lena” – preferencialmente em itálico, que é uma inclinação que fica sempre bem nas cartas de Deus. Escusava de me fazer passar pelo sufoco de ano e meio de desemprego e muito desespero!

Bem... lá assinei a coisa e em vez dos 180 euros que a embaixada pedia, a Lena gastou comigo 4 euros e qualquer coisa pelo rodízio que me pagou. Talvez tenha perdido um trabalho, mas ganhei um almoço. Bem vistas as coisas, até que o balanço foi positivo.

Coitada da Lena... a vida também não lhe corre nada bem. Desde que foi mandada embora do Castelo não consegue vender mais nada, apesar de ter, mesmo assim, um ponto de venda muito bom. Lá no Miradouro de Santa Luzia.

Eu gosto da Lena.

Depois de regressar tive mais uma brilhante ideia: escrever uma carta a propor às agências de turismo russas que me enviem turistas para eu depen... ops... passear pela cidade e mostrar as coisas belas que Lisboa tem para oferecer!

A carta ficou por enviar, pois tenho que a reler amanhã, com cabeça fresca, para ver se não vai com muitos erros.
À tardinha o Carlitos telefonou. Assim, sem mais nem menos, para saber como é que eu estava. A minha alma ficou parva. Eu não me recordo a última vez que alguém me tenha telefonado assim, sem um pedido desesperado no auscultador para me fazer. Sinceramente estranhei alguém lembrar-se simplesmente de mim e dizer-me "lembrei-me de ti e resolvi telefonar-te". Excepção seja feita para uma chamada do Eduardo à uns dias e para o Hugo (de quem, a propósito, ando a estranhar o silêncio. Telefonei-lhe hoje e a voz da menina Telecom diz que o número não está atribuído. Tenho que ver o que se passa). Bem, mas se o Carlitos me volta a telefonar só porque se lembrou de mim, ainda eu me habituo mal.

Após este espasmo de espanto tentei sentir-me útil a mim mesma e diminuir o monte de roupa no cesto passando a ferro umas quantas peças, mas à quarta t-shirt sentia-me já extenuada! Como é possível alguém dizer que os trabalhos de casa são “coisa leve”?! Mil vezes alombar com os meus queridos Fresnels de 5000 watts para cima de um monte de espinhos a fim de iluminar um ouriço-caixeiro a copular que engomar um cesto de roupa e lavar o amontoado de louça que já tenho suja na cozinha... suja.
A propósito, como será que os ouriços copulam?

E assim, com esta dúvida vital para o desenvolvimento da humanidade, termina o meu primeiro dia de acção anti-depressão-de-desempregada-e-sentimento-de-inutilidade-completa-de-formada-que-nem-para-lavar-escadas-consegue-trabalho!

Anoiteço um pouco desanimada. Mas o mundo que me espere e a roupa do cesto que não fuja, que amanhã é outro dia!!

PS – Olha, o idiota escreveu-me agora um outro mail, se é que se pode chamar aquilo de mail: “mas os meus preços de qualquer modo não lhe convêm” – sem mais nada, nem ponto de interrogação, nem letra maiúscula no início da frase, nem nome no fim. Esta frase seca é todo o mail. Há pachorra pra isto? Sinceramente não sei o que pretende. Eu dei-lhe o meu mail porque ele pediu, mas deixei claro que não vou morrer a traduzir para um casino a um euro a folha. E se o dólar baixa ainda corro eu o risco de lhe pagar a ele em euros. E ele agora que quer? Que eu baixe o preço ou está a perguntar-me se eu, quem sabe, entretanto não mudei de ideias? Vá-se lá entender esta gente... Como eu já disse, amanhã é outro dia. Amanhã ele terá a minha resposta. A noite é boa conselheira... dizem.

domingo, 5 de julho de 2009

Crónicas de um Desemprego - I

Segundo um certo provérbio português, quem tem amigos não morre na prisão.

Pois eu, se fosse presa hoje, morreria.

Amanhã... amanhã vou mudar a minha vida!

domingo, 21 de junho de 2009

Conde Reis

Há pessoas que deixam marcas na nossa vida. E há as que deixam marcas no nosso ser.

Entre umas e outras a diferença está em nós, nos marcados. No quanto deixamos ou não essas marcas fazer parte dos nossos mais pequenos gestos inconscientes.

O Conde Reis, um senhor de uma idade respeitável, magro de compleição ágil e com aqueles olhos carinhosos sempre por detrás dos óculos graduados era, antes de mais, um Colega com quem tive a honra de trabalhar. Não um colega desses que a gente encontra aos pontapés e que na primeira oportunidade com o mesmo pontapé nos afastam. Não. O Conde Reis era um Colega com letra grande, como letra grande só podem ter as pessoas que nos marcam. E o Conde Reis marcou-me. Marcou-me com a sua sabedoria que eu, inspirada na respeitável barba branca ele ostentava e que ainda teimava em ter alguns fios de juventude escura, tinha por milenar. Marcou-me na serenidade da sua voz sempre calma que o seu nome nobiliárquico parecia impor. Marcou-me nos desenhos momentâneos que rabiscava na toalha do restaurante para entregar as plantas dos cenários dentr do prazo que normalmente terminava entre o conduto e a sobremesa. Marcou-me na humanidade que sua fragilidade e insegurança por vezes denunciavam em entrelinhas que só eu acreditava conseguir ler. E marcou-me no olhar de criança maravilhada que fazia quando via as minhas luzes. “Só tu sabes iluminar os meus décors, Dina. Que bonito!”. Era um “Que bonito!” tão sincero, como sinceros são os olhos dos artistas diante do vislumbre.

Nós entendiamo-nos no nosso amor pela arte visual das coisas simples e bonitas. «O simples é sempre o mais difícil, mas será sempre o mais bonito» disse-me ele certa vez, como que dando um conselho de ancião à novata da tribo. Sempre nos entendemos. Desde o primeiro dia que trabalhámos juntos e que ele me recomendou um livro que eu viria algum tempo depois a comprar: Da Cor à Cor Inexistente.

Na nossa simbiose harmoniosa de crianças maravilhadas ele criava os cenários e eu iluminava-os. E ficava bonito, o nosso trabalho, ah se ficava!

Há uns 3 meses telefonei-lhe, assim, sem mais nem menos, para saber como estava. Conversámos animadamente e animadamente nos despedimos. Alguns dias depois, por engano, voltei a ligar o número dele (o meu destinatário era, desta vez, o Costa Reis). Depressa ambos nos aprecebemos da minha gaffe. E despedimo-nos rindo... e eu pedindo desculpas pela minha “cabeça de vento”.

Esta semana pensei em telefonar-lhe. Desde aquela gaffe que não sabia nada dele. No entanto os dias passaram e a semana terminou sem que eu tivesse cabeça, de vento que fosse, para lhe ligar.

Hoje o telefone tocou. No mostrador surgiu o nome “Conde Reis”. Estranhei... muita coincidência...

Do outro lado o Carlitos diz-me “Não, Dina, não é o Conde Reis”. A notícia que ele me deu escusava de ser dada. Assim que o ouvi a ele em vez do dono do telefone entendi de imediato o evdente: o Conde Reis falecera!

Na passada quarta-feira, perdi um camaradas de trabalho. Perdi um amigo. Perdi uma pessoa que deixou uma marca “bonita” no meu ser.

Vou ter saudades suas, Conde Reis, mas conforta-me saber que se o Céu existir terá, com certeza, uma luz infindamente bela para os seus décors.

Desenhe em paz, meu amigo!

domingo, 14 de junho de 2009

Testamento

Da vida,
quando eu morrer,
levarei somente a memória daquele dia triste
em que te vi partir.

De resto
nada quero levar que não seja meu.
Já pesada me será a terra!

Quero ir leve como a penugem da ave que deixa o ninho.
E a última folha seca que abandona silenciosa a árvore no Outono.

À parte disso
Lego à vida tudo o que sou
Ao momento da morte.

A ela devolvo o óvulo que me pariu
No corpo mutante e seguro
Que me fez crescer.

Ao vento jogo os sonhos que deixei adormecer
Para que brisas de vidas futuras
Os despertem em portos nunca dantes atracados.

Ao mar do meu país,
Verde e azul como o olhar que tenho,
Deixo a espuma da saliva dos beijos que dei,
Deixo o sal das lágrimas que nunca chorei
E as ondas que banharam as praias da minha infância.

As noites de sonhos bem dormidos
Entrego à Lua,
Senhora das horas escuras
do meu passado nas insónias mil vezes revivido.

O meu riso
Deixo aos homens a quem roubei poesia suficiente
Para me fazerem rir.

As mentiras que contei,
De irrisórias e inofensivas,
Deixo aos conjuges infelizes
Que com elas se recuperem
No leito dos homens perfeitos
Ou no antro das meretrizes.

O que tenho de mal,
defeitos meus com os quais pequei,
Lego ao sabor do tempo
Que, ciente estou, algo se aproveitará
Pois à hora deste poema
Não matei, não roubei, respeitei mãe e pai
E se cobicei homem alheio
A Biblia não me condena!

Quando eu morrer não me chorem
Que eu não vou a lado nenhum.
Convosco fica o meu silêncio,
a parte de mim que calo para vos deixar.
E a graça que tenho,
Que os mortos não necessitam de nome.

E a longa caminhada que fiz,
de passos lentos e inseguros,
Lego ao chão,
Companheiro dos meus pés,
Quando o passo lhes faltou.

Tudo deixo,
Para que o pó ao pó volte,
E as cinzas às cinzas.

A exepção que faço
São os teus olhos escuros,
Que quando eu morrer,
Os deixarei mirarem-me uma última vez
Com o aceno da mão e o beijo lançado no ar,
Com o “te amo” intemporal
Dos amantes condenados.

Quando eu morrer
Que morra finalmente comigo
A única coisa que tenho:
este amor insano e ridículo
e todas as vãs ilusões de te ter tido!


(para o Zirão, a quem em tempos amei com a despreocupação das coisas simples e naturais)
Que tenhas um dia bom. Feliz Aniversário!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Fuck preparation. They have desenrascanço!

Hoje encontrei na net um artigo sobre as 10 palavras estrangeiras mais fixes de que o inglês precisa. Para minha grande surpresa a palavra que mereceu o primeiro lugar foi o português "desenrascanço". Confesso que dei algumas gargalhadas aqui à frente do monitor:




The 10 Coolest Foreign Words The English Language Needs

Desenrascanco (Portuguese)

Means: To pull a MacGyver.

This is the art of slapping together a solution to a problem at the last minute, with no advanced planning, and no resources. It's the coat hanger you use to fish your car keys out of the toilet, the emergency mustache you hastily construct out of pubic hair.

What's interesting about desenrascanço (literally "to disentangle" yourself out of a bad situation), the Portuguese word for these last-minute solutions, is what is says about their culture.

Where most of us were taught the Boy Scout slogan "be prepared," and are constantly hassled if we don't plan every little thing ahead, the Portuguese value just the opposite.

Coming up with frantic, last-minute improvisations that somehow work is considered one of the most valued skills there; they even teach it in universities, and in the armed forces. They believe this ability to slap together haphazard solutions has been key to their survival over the centuries.

Don't laugh. At one time they managed to build an empire stretching from Brazil to the Philippines this way.

Fuck preparation. They have desenrascanço!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Dúvida

Não me sinto mais sábia. Pelo contrário. Perdi as certezas...

Então é isto, ter quarenta anos?

E agora?... Como continuar?

Uma luz, por favor, uma luz...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Adeus Balzac

Despeço-me de Balzac com um estranho travo na boca de década ainda não vivida e, no entanto, já passada.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Raisparta as flores!

Para além das muitas qualidades que reconheço e amo no povo russo (leia-se nos eslavos russófonos em geral) há outras que, realmente, me tiram do sério. Uma delas é a porcaria das flores! Não me refiro a porcaria no sentido literal da palavra que suja, mas a porcaria como exclamação daquilo que os brasileiros dizem encher o saco.
O contacto entre culturas é uma coisa sadia, principalmente se tiver cariz sexual por detrás (leia-se "por detrás" metaforicamente, que isto no sexo inverte logo o sentido das coisas). E os portugueses, generosos dadores de sémen por esse mundo fora, conhecem melhor que ninguém esta tão grande verdade: digam lá o que disserem, qualquer coisa que se mova e tenha um buraco no meio é, para o bom do bom português, eventual receptor cultural!
Para o espécimen macho lusitano copular com as russas não é um acto sexual exótico - é antes um desígnío de expansão cultural. Entre beber vodka e ler Dostoievski, o diabo que venha e escolha. Temos cá o vinho para beber e o Bocage para ler. Eis a cultura no seu esplendor lusitano! Ora daqui facilmente se depreende que o macho tuga pouco precisa para iniciar o ritual de aculturização com as russitas que em terras de Tejo e Douro desembarcam. Elas, educadas que são para serem o centro de coisa nenhuma e achando-se mais bonitas, meigas, intelectuais e claras que todas as outras mulheres do mundo, não entenderam ainda a grande verdade do lusitano esperma: fossem elas feias, brutas, imbecis e escuras fariam igualmente parte da selecção natural da vida. Para o macho português tudo o que vem à rede é peixe, mesmo sendo caranguejo!
E neste turbilhão cultural de trocas de humores, elas, na avaliação que sempre fazemos dos homens que nos lambuzam, não encontram maior defeito nos portugueses que o facto de «não serem cavalheiros por não oferecerem flores!». Mas dizem isso com um tal desdém, com uma tal soberba, como se nada de mais grave existisse no mundo.
Parto em defesa de nossos machos! Raios as partam a elas e mais às flores delas! Mas isso é defeito que se ponha a alguém???
Vejam lá se não vos cai o Carmo e a Trindade em cima por não receberem flores!... Ora, francamente!...
Defeito de homem é não plantar a flor connosco. Isso é que é o defeito.
Agora ir ali à loja da esquina e comprar umas florzecas murchas que, ironicamente, serão arranjadas por outras mulheres, e que trazem já no caule cortado o prenúncio da morte é, no mínimo, bizarro, para não dizer macabro. E, já agora, porquê oferecer um ramo de flores e não uma tijela de arroz xau-xau?... em questões práticas seria menos ridículo e bem mais proveitoso para recuperar as forças depois da noitada de sexo.
Desde quando é que comprar flores é qualidade que se preze??
Se elas gostam de receber flores, por mim, sinceramente, tudo bem. Viva a democracia! Agora que achem que o que elas acham é o que se acha no homem, já é demais. E como se não bastasse, que elas achem ainda que o que nós achamos não é perdido nem achado para o valoroso espermatozoide lusitano é inadmissível!! Então andamos nós, valentes mulheres lusas, inconformadas, a ensinar há mais de 800 anos os nossos homens a usar as flores para fazer revoluções e vêm elas agora apoderar-se dos nossos caules?
Ah não!! Sirvam-se à vontade dos nossos homens - chegam para todas. Mas não se sirvam da nossa arma revolucionária para fazer filhos por gosto!
Raisparta as vossas flores! Deixem os nossos cravos andarem selvagens nas ruas à mercê do vento e não aprumados em aniversários ranhosos com hora marcada!

domingo, 3 de maio de 2009

Mãe

Mãe
É aquela que nós somos
Antes de sermos nós.

sábado, 25 de abril de 2009

35 do 25

Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.

(Ary dos Santos)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A Constância

A constância! Acho que é a constância, meus amigos, o que realmente importa!
É claro que é importante ter quem nos ouça, ter quem nos entenda, quem apareça para nos amparar nas quedas, quem nos embebede e nos leve em braços para casa ou para a cama, ter quem nos embale e quem nos acuda. Ter quem nos calce a vida quando perdemos os sapatos. Ter quem nos perca quando queremos ser achados. Tudo isso é importante. Tudo isto, mais que importante, é vital.
É vital ter quem nos faça rir e ter por quem estejamos dispostos a morrer. Mas ironicamente, meus amigos, a importância nem sempre está no que é essencial. Por vezes o importante é o supérfulo de um desenho rabiscado num papel quando o essencial é a mão que desenha.
Na amizade é assim: o essencial são os amigos verdadeiros, sem os quais não viveremos, são os pedaços de nós dentro dos outros. No entanto, o importante é a constância. É o «Sempre»
E o Hugo é assim - o desenho supérfulo de importância máxima! Tão supérfulo que mal se vê no papel, apesar do corpanzil que tem. No entanto tão importante que neste momento é ele que me dá a força de mil amigos, verdadeiros ou não, tanto faz.
E o que faz o Hugo de tão importante? - Telefona! Nada mais faz que telefonar. Telefona e fala. Fala disparates. Fala muitos disparates.
Faz dois dias a última vez que telefonou. Contou-me que está a ficar velho e só agora se deu conta. Como chegou a essa brilhante conclusão? Muito simples
"- Foda-se, Dina, eu adormeci a ver um jogo de futebol!!! Tu achas isso normal??? Eu dormir durante um JOGO DE FUTEBOL! Estou acabado... estou a ficar velho!"
E riu, riu muito um riso que só não teve a ironia disfarçada porque o Hugo não consegue ser subtil.
Ao contrário do que se pode pensar, muito pouco sei dele. E ele ainda menos sabe de mim. Conhecemo-nos num trabalho, pouco tempo depois de eu regressar a Portugal e ficámos a trabalhar juntos durante estes quase 10 anos consecutivos. Estranhamente nunca entrámos na vida pessoal um do outro. No entanto existiu desde sempre entre nós um pacto quase diabólico de entendimento supérfulo: ele sabe que me pode falar seja do que for que eu sempre terei algo a acrescentar e a tornar o tema ainda mais porco do que ele pretendia inicialmente que fosse: tanto faz que seja da importanção do caracol de Marrocos à sua (dele) "comichão no cu" (sic).
E agora, que "caí fora" do círculo profissional, o Hugo, longe de ser meu confidente ou amigo mais especial que outros bem mais chegados, foi o único (leia-se: o único) que se manteve inalterável comigo: continua a telefonar-me para falar do que lhe apetece, sem demonstrar qualquer tipo de pena por eu estar desempregada e, o que é ainda melhor, sem sentir qualquer tipo de remorso por não sentir pena de mim. Na sua normalidade, o Hugo faz-me sentir normal... e não há nada tão reconfortante que acharmo-nos normais numa situação perfeitamente anormal.
Para além de que um homem que tenha temperado bifes com piri-piri não poder, de modo algum, nos minutos seguintes a esta operação tocar no seu querido e amado pénis, por mais que tenha lavado as mãos, o Hugo ensinou-me também que a constância será talvez a maior das dádivas para quem anda na vida sem rumo.
Obrigada Hugo!

domingo, 5 de abril de 2009

Lyngua Portugueza _____________________(ou A Culpa é da ASAE)

"Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse."
- Fernando Pessoa -


Que a língua dói nos olhos e que todos cometemos erros ortográficos não é novidade nenhuma. Que atire a primeira pedra quem não a quiser para calcetar a sua própria calçada.

Há erros que fazemos por distração, por pensar na morte da bezerra, há gralhas que nos fazem os dedos em comunhão com as teclas, há erros que fazemos por falta de prática, que a escrita é como o sexo e a oração: sem prática perde a naturalidade, e há erros que simplesmente estão lá, sem explicação surgem e, sem explicação, nunca desaparecerão. Humanos somos e como humanos morreremos, ao contrário da galinha, que nasce pinto e morre frango.
Há no entanto um tipo de erro que faz o Gene da Língua existente em mim querer ser clonado em ovelha Dolly: o erro daquilo que simplesmente não pode existir!
É, por exemplo, estatisticamente mais provável um casal de gays negros ter um filho caucasiano de olhos azuis que na Língua Portuguesa um cê de cedilha aparecer imediatamente antes de um «i» ou de um «e».
Quem escreve "voçê" deveria ser tratado por «pá» o resto da vida! (e isto inclui brasileiros)
Há coisas que simplesmente não podem ser... entendem? Trocar dois "ésses" pelo cê de cedilha pode acontecer; trocar o x pelo ch - pode acontecer; trocar um «o» pelo «u» - não deveria ser possível, mas acontece e omitir ou inventar acentos dá-se, por vezes inexplicavelmente, a toda a hora. Agora escrever "cê de cedilha" antes de um «e» - pura e simplesmente não pode ser: é tão disparatado como querermos, numa subida, fazer o carro com a marcha à ré engatada andar para a frente.
Enfim.... passo ao episódio que desencadeou este lado pessoano da minha pessoa: hoje entrei num estabelecimento comercial para comprar um franguito assado, o tal que nasce pinto. Eis que no momento de aquisição do bichinho assado deparo-me, estupefacta, com o letreiro colado na parede, atrás do balcão, mesmo na linha do meu olhar: "AÇEITÃO-SE ENCOMENDAS".
Aceitão-se??? - Reli para ter a certeza do que lera.
Enquanto a senhora que me atendia, com seu por demais evidente sotaque ucraniano, tentava saber se eu queria ou não "pirri-pirri no frangô" eu pensava se matava ou não o patrão dela, um senhor simpático, despachado e barrigudo que, na outra ponta do balcão, atendia lesto a sua quota-parte de clientes esfomeados.
Como pode uma palavra tão pequena ser assassinada com dois erros tão crassos? A escrita da língua doeu-me nos olhos e a fome passou...
Terá sido a senhora ucraniana a escrever? Esta teoria rapidamente cairia por terra, pois uma ucraniana que escrevesse "açeitão-se encomendas" não saberia continuar a frase com "de morcelas de Fornos de Algodres"! - Isto é uma daquelas coisas que só um português barrigudo, provavelmente de Fornos de Algodres, sabe o que é!!
E se ela tivesse escrito (suponhamos que tinha vindo directamente de Vinitsa, Ucrânia, para Fornos de Algodres, Portugal)? Seria o senhor, além de barrigudo, cego?
Cego ele era, só que de amores por ela, que eu bem vi os cruzados olhares que entre pernas de frango e gordura de batata frita os dois trocavam! Está visto que este casal só conseguirá ser ridículo nas encomendas que propõe, jamais nas cartas de amor que não escreverá...
A minha ovelha Dolly balyu com o ipsilon de Pessoa e eu saí, com um misto de "sejam felizes" e "que morram decepados pelo til do «a» e a cedilha do «cê»".
E estas coisas, mais graves que qualquer rato a mijar as nossas latas de refrigerante, a ASAE não vê!

sábado, 4 de abril de 2009

Frase do dia


БЫЛ, ЕСТЬ И БУДЕТ ЕСТЬ!

PS - como ninguém lê este blog, a ninguém incomodará que a minha frase de hoje seja em russo e sem tradução.

sábado, 28 de março de 2009

Porcos, Cultos e Maus

Para além das grandes coisas que me irritam a mim e a todas as misses Universo (a guerra no Mundo, a fome na Etiópia, os órfãos nos asilos e coisas do estilo) há pequenas coisas que me irritam mais que as próprias misses Universo.

Uma delas diz respeito às pessoas cultas e estúpidas.

Gozem o que quiserem, mas a questão é que eu, pecadora perante vós me confesso, gosto de pessoas cultas! Gosto de quem lê livros, de quem discute sociologia, de quem tem opinião sobre tudo e mais alguma coisa, de quem entende de música ou vê cinema. Gosto de quem gosta de poesia e de outras coisas acabadas em “ia”.
E gosto de pessoas inteligentes. Acima de tudo, pessoas inteligentes.

Para tal basta ver as duas características que me mais me fascinam num homem: inteligência e sentido de humor (para além de uma carinha larocas, preferencialmente parecida com a do Banderas, e de um cheiro que não me traga à memória nenhum equídeo, claro está).

Detesto os palhaços, que riem a torto e a direito das desgraças alheias. Mas adoro aquelas pessoas que conseguem transformar a desgraça, sua e alheia, numa ironia ridiculamente cómica, gosto de quem me faz rir inteligentemente. Gosto de conversar com pessoas que se me apresentem como um desafio intelectual, que me “dêem luta” e por quem eu crie, regra geral inconscientemente, uma relação de admiração. Gosto do intelecto no seu estado puro e acho que é no humanismo e no sentido de humor que ele encontra a sua prova derradeira. Fascina-me quem me fizer rir num funeral sem que para tal atire uma tarte de maçã à cara do defunto. É fácil ser-se inteligente com um teorema matemático: “basta” resolvê-lo. Mas tente ser inteligente com uma boa acção ou com uma piada...

Pois bem, a D. Emengarda, alentejana de gema, dona dos seus orgulhosos 80 anos, apesar de personagem acabada de criar no meu imaginário a quem nunca ensinaram a escrever a não ser o desenho do seu nome, não deixa de ser uma das minhas heroínas. Tenho para mim que a escrita em si nada tem nada a ver com a inteligência! A inteligência, essa, é que pode, ou não, ter a ver com a escrita.

Hão-de pensar que eu estou confundindo inteligência com cultura. Não, não estou. Gosto de pessoas cultas, mas só gosto de pessoas cultas inteligentes. Se separarem a cultura da inteligência, eu fico do lado dos inteligentes que nunca leram um livro. Desprezo, mais que tudo, os cultos estúpidos. São as pessoas mais perigosas e insuportáveis do mundo!
E são altamente nocivos, estes cultos maus: pavoneiam pelas ruas a efémera cultura lambida no último livro comprado em saldos na feira. Nada aprendem sem letras e nada fazem para que os outros aprendam com elas.

A D. Emengarda aprendeu a desenhar algumas letras entre o parto da porca, o amanho da terra, a cozedura do pão, a lide da casa e a mamada do filho. É a sábia que de todos leva o maior quinhão da minha mais sincera admiração! E não se pense que escrevo isto por comiseração à senhora que, coitadinha, apesar de analfabeta tão bem cumpriu o seu papel na vida. Nada disso! Admiro a Sr. Emengarda porque no alto das suas 8 décadas a vejo sábia na inteligência que teve para fazer tudo, para conseguir tudo, para aprender tudo, para pôr todos os dias as migas na mesa. E no fim, quando a terra lhe chegar à pele, saberá dela o que ela lhe ensinou.
A quantos de nós será a morte tão natural como deve ser?...
No entanto, enquanto cá anda, que a morte mafarrica não a há-de levar já, a D. Emengarda ri-se, desdentada, dos maus tratos que deu aos dentes e da vida que ainda não a conseguiu gelar por falta de lenha ou de homem.

Gosto de pessoas que me excitem intelectualmente, seja com um texto da Beauvoir ou com um raio de sol laranja-avermelhado que entrou descuidadamente pela fresta da janela.

Gosto da inteligência. Gosto do riso. E gosto dos bácoros que as porcas da D. Emengarda pariram.

terça-feira, 24 de março de 2009

Turistas de Lisboa

(Divagações de uma tarde turística na Baixa lisboeta)
Os turistas nórdicos são aqueles que no pico do Inverno andam de t-shirt e que aos primeiros ténues raios de Sol primaveril são facilmente confundidos com lagostas andantes de duas pernas.
Os turistas americanos são os mais floridos e confiantes. Demonstram grande sentimento de segurança. Acredita que por eles não fazerem a mínima ideia onde estão, a Al-Qaeda jamais os descobrirá aqui.
O turista alemão é o mais indeciso: calça sandálias porque deve ter calor, por cima de meias, porque deve ter frio, imagino eu... que na minha curta imaginação não consigo encontrar outra utilidade para a pobre peúga que não seja a de aquecer os pezinhos.
O turista espanhol é como aquele parente que nos visita mas que entra pela porta dos fundos porque tem confiança para tal... está em casa mas não manda nela... fala alto mas não assusta ninguém. E não usa peúgas debaixo das sandálias, o que, a meu ver, mostra alguma sanidade mental.
O turista francês é aquele que só fala francês... mesmo quando julga falar inglês.
E quanto aos turistas brasileiros são aqueles que não se destacam particularmente da multidão lusa, a não ser por terem mais bisavós portugueses que os próprios portugueses.
Ah... como eu gosto dos turistas de Lisboa!

domingo, 22 de março de 2009

Auto-retrato

Auto-retrato
Sou simples como o vento:
Tenho tempestades!

sábado, 21 de março de 2009

A POESIA

A poesia quer-se
No barco, no carro, na mota.
Ou nas asas de uma gaivota.
(pelo Dia Mundial da Poesia)

quinta-feira, 12 de março de 2009

LUZIA

Há menos de uma hora atrás estava eu na paragem do autocarro quando se aproxima-se num andar inseguro uma jovem mulher... bonita, de óculos escuros, de bengala na mão. Cega. Oriento-a para a paragem. Pergunta-me quando vem o próximo autocarro para a Praça do Chile. Seis minutos - respondo. Estranho, é brasileira. Não que eu não saiba existirem brasileiras cegas, mas porque é difícil encontrar uma invisual brasileira caminhando pelas ruas de Lisboa.

Metemos conversa uma com a outra. Passa o meu autocarro. Deixo-o ir. Fico com a conversar. Ela tem uma voz invulgarmente suave, parece a personificação verbal da bondade, a voz do nosso anjo bom... e ainda por cima com sotaque brasileiro.

Rapidamente surge o autocarro dela, que também serve para mim. Entramos as duas. Falamos mais. Conta-me nos dois minutos do percurso que perdeu a visão há coisa de um ano. Trabalhava para uma senhora e quando começou a cegar foi posta na rua!

A pena, raiva e impotência tomou conta de mim! Quero reinventar o mundo!

Quando queremos viagens longas, elas são curtas. Fiquei embalada na sua voz suave. Ao sair deu-me o número de telefone que apontei toscamente na mão e já na porta do autocarro respondeu-me "Luzia" quando lhe perguntei o nome.

Luzia... ficou este nome alguns minutos a vaguear-me estranha e suavemente pelo imaginário sonoro.

E esqueci completamente o desespero que minutos antes sentia, parada na paragem do autocarro, a pensar onde ir arranjar dinheiro para pagar as contas deste mês.

Afinal, eu vejo as contas para pagar...

terça-feira, 10 de março de 2009

Os americanos não são bons de cama!

Alguém ainda tem que me explicar aquela coisa patológica que os personagens das séries norte-americanas têm em relação às relações.

Os gajos são bons a fazer filmes, honra lhes seja feita: boa iluminação, bons sets, bons efeitos, boa montagem, bons actores, tudo caro e topo de gama... e, no entanto, paira sempre no ar aquela sensação de que o dinheiro não chegou para o psicólogo.

Há nessas séries sempre alguém que gosta de alguém mas por alguma razão, que ninguém entende muito bem, não se resolve a assumir a relação ou, pelo menos, a dar uma queca com esse alguém de quem gosta sem que os complexos de culpa nos venham depois atulhar os 5 episódios seguintes.


Eu juro que não estou interessada em ver cenas de sexo. Muito menos americanas. Por mim podem cortar as personagens com sentimentos profundos: eles são bons a dar porrada, a olhar pelo microscópio, a perseguir, de salto alto, os criminosos mais maléficos para a sociedade, a acordar impecavelmente maquilhados e a usar óculos de sol. Mas não são bons a ter sentimentos profundos!

Quer dizer, profundos eles até sabem ser.... só não sabem muito bem gerir é essa "profundidade".

E se resolvem arriscar e pôr "a manhã seguinte" vemos sempre a senhora em questão levantar-se com o pudor máximo do lençol a cobrir-lhe "as vergonhas" - e isto depois de, desculpem-me a linguagem, ter feito um broche ao gajo.

Uma mulher que faz um broche a um gajo, ainda para mais um bom broche, levanta-se altiva pela manhã, exibindo o corpo e orgulhosa da boca!

Mas as mulheres e homens americanos parecem nascer com traumas porque os pais se irão separar quando eles tiverem dois anos ou porque a mãe teve um namorado punk, ou porque o filho pode ficar altamente traumatizado se vir um homem em cuecas lá em casa, ou porque a namorada foi comprar fósforos e, em vez disso, comprou um isqueiro...

Claro que temo o outro lado, moderno, das séries do tipo "Boston Legal" (que, aliás, gosto imenso) ou O Sexo e a Cidade. O primeiro é uma assumida comédia assente em piadas sexistas, não há quaisquer lugar para traumas, quanto mais para sentimentos, e a segunda só fez sucesso porque focou precisamente a questão do sexo como se fosse algo de outro mundo as mulheres falarem de sexo entre si. As conversas entre mim, a Cátia, a Tatiana e a Maria teriam oferecido aos americanos séries de sucessos para os próximos 20 anos (e isto se cortarmos as cenas das descrições explícitas)!

Exijo mais franceses em Holy...wood!

domingo, 8 de março de 2009

ÀS MULHERES DA MINHA VIDA

As mulheres da minha vida são:
Carinhosas



Destemidas




Sábias





Genuínas






Mouras







Frontais






Lampionas






Ambíguas






"Vermeerianas"





Alegres








Meninas






Amigas




Sensuais




Despenteadas






São o meu D(i)NA


POR TODOS OS DIAS DO ANO!
POR TODAS AS MULHERES DO MUNDO!
(fotos de Dina Paulista)

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A ORIGEM QUE METE ESPÉCIE

Uma das coisas boas em se estar desempregado é o facto de se ter muito tempo livre.
Uma das coisas más em se ter muito tempo livre é que, provavelmente, se está desempregado.
À parte disso podemos filosofar à vontade sem medo de estarmos a perder tempo ou trabalho!
E eis que em época conturbada de crise mundial, vejo-me, por falta de trabalho e excedente de ócio, a descobrir a essência das divisões humanas.
Pense-se bem: o que é que realmente separa os seres humanos?
Existem, claro, muitas "teorias divisionárias", na esmagadora maioria dos casos elaboradas por empregados ricos sem muito tempo, nem cérebro, para pensar: Ele é pretos de um lado e brancos do outro, ele é ricos por cima e pobres no seu lugar, ele é homem que é homem e mulher - que se é ele é bicha, ele é obesos e anoréxico... enfim, um sem número de inutilidades resumidas nos tentilhões de Darwin.
Mas o que dizer de uma teoria verdadeiramente revolucionária, desenvolvida por uma desempregada pobre?
Pois bem, na continuação do trabalho de Darwing, aqui está o meu singelo contributo:
A ORIGEM QUE METE ESPÉCIE
1. Mete espécie pensar que o Homo Sapiens Sapiens pensa.
2. À parte disso, ele diferencia-se somente numa coisa: na escova de dentes!
a) Qual cor de pele qual carapuça!
A divisória é feita da seguinte forma: dois grandes ramos com dois grandes sub-ramos.
3. Ramo divisório único da Humanidade:
a) Há dois tipos de pessoas: aquelas que, ao fim de uma semana de uso, têm a escova de dentes como que saída das trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Haja dente, cavidade e tártaro para esfarelar escovas dessa maneira!
Estas pessoas compram a escova, com os pelinhos todos direitinhos, tal pelo de gato eriçado, e assim que a enfiam na boca (o verbo mais apropriado é mesmo enfiar) a escova sai tal gata em telhado de zinco: completamente esparrachados, com os pelitos todos para os lados.
Aliás, tenho para mim que a palavra "esparrachada" foi inventada única e exclusivamente para este fim: para descrever a escova do grupo dos "Esparrachadores".
b) Depois temos o outro grupo, o antagónico, que só troca de escova porque não pode trocar de vida. A sua escova de dentes estará sempre pronta a ser reembalada e posta outra vez à venda, que outro comprador não dará conta do uso, tal será ainda a firmeza masculina do pêlo da escova feminina.
4. Sub-ramo divisório único da Humanidade:
Cozinhar pode ser uma arte, uma tortura, uma chatice ou, simplemente, uma questão de fome. Seja como for, cozinha-se num local convencionado a chamar-se de cozinha. Na cozinha, a cozinhar, há, mais uma vez, dois tipos de pessoas:
a) O grupo daqueles que terminam de cozinhar com a cozinha arrumada. Ou seja, aqueles que conseguem cozinhar, lavar, limpar, enxugar, ralar, cortar, picar, bater ovos em castelo e arrumar tudo ao mesmo tempo. Quando dizem "O jantar está na mesa" querem dizer "a cozinha está um brinco".
b) O segundo grupo, como já entenderam, são os javardos, aqueles para quem cozinhar é incompatível com qualquer outra actividade que não seja sexo em cima da tábua do pão.
O indivíduo deste grupo não consegue descascar uma cebola sem sujar pelo menos dois terços do chão da cozinha, 3 panelas, 8 facas, 2 panos da louça e, eventualmente, entornar em cima do fogão o molho de tomate que estava a refogar.
5. Conclusão geral da Lei Diniana: bem vistas as coisas, mete espécie uma espécie com tantas diferenças inventadas pela boca, sendo esta, a boca, a origem de tudo realmente capaz de nos dividir!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Minha primeira palavra a 2009

Psiu!...