A constância! Acho que é a constância, meus amigos, o que realmente importa!
É claro que é importante ter quem nos ouça, ter quem nos entenda, quem apareça para nos amparar nas quedas, quem nos embebede e nos leve em braços para casa ou para a cama, ter quem nos embale e quem nos acuda. Ter quem nos calce a vida quando perdemos os sapatos. Ter quem nos perca quando queremos ser achados. Tudo isso é importante. Tudo isto, mais que importante, é vital.
É vital ter quem nos faça rir e ter por quem estejamos dispostos a morrer. Mas ironicamente, meus amigos, a importância nem sempre está no que é essencial. Por vezes o importante é o supérfulo de um desenho rabiscado num papel quando o essencial é a mão que desenha.
Na amizade é assim: o essencial são os amigos verdadeiros, sem os quais não viveremos, são os pedaços de nós dentro dos outros. No entanto, o importante é a constância. É o «Sempre»
E o Hugo é assim - o desenho supérfulo de importância máxima! Tão supérfulo que mal se vê no papel, apesar do corpanzil que tem. No entanto tão importante que neste momento é ele que me dá a força de mil amigos, verdadeiros ou não, tanto faz.
E o que faz o Hugo de tão importante? - Telefona! Nada mais faz que telefonar. Telefona e fala. Fala disparates. Fala muitos disparates.
Faz dois dias a última vez que telefonou. Contou-me que está a ficar velho e só agora se deu conta. Como chegou a essa brilhante conclusão? Muito simples
"- Foda-se, Dina, eu adormeci a ver um jogo de futebol!!! Tu achas isso normal??? Eu dormir durante um JOGO DE FUTEBOL! Estou acabado... estou a ficar velho!"
E riu, riu muito um riso que só não teve a ironia disfarçada porque o Hugo não consegue ser subtil.
Ao contrário do que se pode pensar, muito pouco sei dele. E ele ainda menos sabe de mim. Conhecemo-nos num trabalho, pouco tempo depois de eu regressar a Portugal e ficámos a trabalhar juntos durante estes quase 10 anos consecutivos. Estranhamente nunca entrámos na vida pessoal um do outro. No entanto existiu desde sempre entre nós um pacto quase diabólico de entendimento supérfulo: ele sabe que me pode falar seja do que for que eu sempre terei algo a acrescentar e a tornar o tema ainda mais porco do que ele pretendia inicialmente que fosse: tanto faz que seja da importanção do caracol de Marrocos à sua (dele) "comichão no cu" (sic).
E agora, que "caí fora" do círculo profissional, o Hugo, longe de ser meu confidente ou amigo mais especial que outros bem mais chegados, foi o único (leia-se: o único) que se manteve inalterável comigo: continua a telefonar-me para falar do que lhe apetece, sem demonstrar qualquer tipo de pena por eu estar desempregada e, o que é ainda melhor, sem sentir qualquer tipo de remorso por não sentir pena de mim. Na sua normalidade, o Hugo faz-me sentir normal... e não há nada tão reconfortante que acharmo-nos normais numa situação perfeitamente anormal.
Para além de que um homem que tenha temperado bifes com piri-piri não poder, de modo algum, nos minutos seguintes a esta operação tocar no seu querido e amado pénis, por mais que tenha lavado as mãos, o Hugo ensinou-me também que a constância será talvez a maior das dádivas para quem anda na vida sem rumo.
Obrigada Hugo!
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