sábado, 25 de abril de 2009

35 do 25

Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.

(Ary dos Santos)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A Constância

A constância! Acho que é a constância, meus amigos, o que realmente importa!
É claro que é importante ter quem nos ouça, ter quem nos entenda, quem apareça para nos amparar nas quedas, quem nos embebede e nos leve em braços para casa ou para a cama, ter quem nos embale e quem nos acuda. Ter quem nos calce a vida quando perdemos os sapatos. Ter quem nos perca quando queremos ser achados. Tudo isso é importante. Tudo isto, mais que importante, é vital.
É vital ter quem nos faça rir e ter por quem estejamos dispostos a morrer. Mas ironicamente, meus amigos, a importância nem sempre está no que é essencial. Por vezes o importante é o supérfulo de um desenho rabiscado num papel quando o essencial é a mão que desenha.
Na amizade é assim: o essencial são os amigos verdadeiros, sem os quais não viveremos, são os pedaços de nós dentro dos outros. No entanto, o importante é a constância. É o «Sempre»
E o Hugo é assim - o desenho supérfulo de importância máxima! Tão supérfulo que mal se vê no papel, apesar do corpanzil que tem. No entanto tão importante que neste momento é ele que me dá a força de mil amigos, verdadeiros ou não, tanto faz.
E o que faz o Hugo de tão importante? - Telefona! Nada mais faz que telefonar. Telefona e fala. Fala disparates. Fala muitos disparates.
Faz dois dias a última vez que telefonou. Contou-me que está a ficar velho e só agora se deu conta. Como chegou a essa brilhante conclusão? Muito simples
"- Foda-se, Dina, eu adormeci a ver um jogo de futebol!!! Tu achas isso normal??? Eu dormir durante um JOGO DE FUTEBOL! Estou acabado... estou a ficar velho!"
E riu, riu muito um riso que só não teve a ironia disfarçada porque o Hugo não consegue ser subtil.
Ao contrário do que se pode pensar, muito pouco sei dele. E ele ainda menos sabe de mim. Conhecemo-nos num trabalho, pouco tempo depois de eu regressar a Portugal e ficámos a trabalhar juntos durante estes quase 10 anos consecutivos. Estranhamente nunca entrámos na vida pessoal um do outro. No entanto existiu desde sempre entre nós um pacto quase diabólico de entendimento supérfulo: ele sabe que me pode falar seja do que for que eu sempre terei algo a acrescentar e a tornar o tema ainda mais porco do que ele pretendia inicialmente que fosse: tanto faz que seja da importanção do caracol de Marrocos à sua (dele) "comichão no cu" (sic).
E agora, que "caí fora" do círculo profissional, o Hugo, longe de ser meu confidente ou amigo mais especial que outros bem mais chegados, foi o único (leia-se: o único) que se manteve inalterável comigo: continua a telefonar-me para falar do que lhe apetece, sem demonstrar qualquer tipo de pena por eu estar desempregada e, o que é ainda melhor, sem sentir qualquer tipo de remorso por não sentir pena de mim. Na sua normalidade, o Hugo faz-me sentir normal... e não há nada tão reconfortante que acharmo-nos normais numa situação perfeitamente anormal.
Para além de que um homem que tenha temperado bifes com piri-piri não poder, de modo algum, nos minutos seguintes a esta operação tocar no seu querido e amado pénis, por mais que tenha lavado as mãos, o Hugo ensinou-me também que a constância será talvez a maior das dádivas para quem anda na vida sem rumo.
Obrigada Hugo!

domingo, 5 de abril de 2009

Lyngua Portugueza _____________________(ou A Culpa é da ASAE)

"Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse."
- Fernando Pessoa -


Que a língua dói nos olhos e que todos cometemos erros ortográficos não é novidade nenhuma. Que atire a primeira pedra quem não a quiser para calcetar a sua própria calçada.

Há erros que fazemos por distração, por pensar na morte da bezerra, há gralhas que nos fazem os dedos em comunhão com as teclas, há erros que fazemos por falta de prática, que a escrita é como o sexo e a oração: sem prática perde a naturalidade, e há erros que simplesmente estão lá, sem explicação surgem e, sem explicação, nunca desaparecerão. Humanos somos e como humanos morreremos, ao contrário da galinha, que nasce pinto e morre frango.
Há no entanto um tipo de erro que faz o Gene da Língua existente em mim querer ser clonado em ovelha Dolly: o erro daquilo que simplesmente não pode existir!
É, por exemplo, estatisticamente mais provável um casal de gays negros ter um filho caucasiano de olhos azuis que na Língua Portuguesa um cê de cedilha aparecer imediatamente antes de um «i» ou de um «e».
Quem escreve "voçê" deveria ser tratado por «pá» o resto da vida! (e isto inclui brasileiros)
Há coisas que simplesmente não podem ser... entendem? Trocar dois "ésses" pelo cê de cedilha pode acontecer; trocar o x pelo ch - pode acontecer; trocar um «o» pelo «u» - não deveria ser possível, mas acontece e omitir ou inventar acentos dá-se, por vezes inexplicavelmente, a toda a hora. Agora escrever "cê de cedilha" antes de um «e» - pura e simplesmente não pode ser: é tão disparatado como querermos, numa subida, fazer o carro com a marcha à ré engatada andar para a frente.
Enfim.... passo ao episódio que desencadeou este lado pessoano da minha pessoa: hoje entrei num estabelecimento comercial para comprar um franguito assado, o tal que nasce pinto. Eis que no momento de aquisição do bichinho assado deparo-me, estupefacta, com o letreiro colado na parede, atrás do balcão, mesmo na linha do meu olhar: "AÇEITÃO-SE ENCOMENDAS".
Aceitão-se??? - Reli para ter a certeza do que lera.
Enquanto a senhora que me atendia, com seu por demais evidente sotaque ucraniano, tentava saber se eu queria ou não "pirri-pirri no frangô" eu pensava se matava ou não o patrão dela, um senhor simpático, despachado e barrigudo que, na outra ponta do balcão, atendia lesto a sua quota-parte de clientes esfomeados.
Como pode uma palavra tão pequena ser assassinada com dois erros tão crassos? A escrita da língua doeu-me nos olhos e a fome passou...
Terá sido a senhora ucraniana a escrever? Esta teoria rapidamente cairia por terra, pois uma ucraniana que escrevesse "açeitão-se encomendas" não saberia continuar a frase com "de morcelas de Fornos de Algodres"! - Isto é uma daquelas coisas que só um português barrigudo, provavelmente de Fornos de Algodres, sabe o que é!!
E se ela tivesse escrito (suponhamos que tinha vindo directamente de Vinitsa, Ucrânia, para Fornos de Algodres, Portugal)? Seria o senhor, além de barrigudo, cego?
Cego ele era, só que de amores por ela, que eu bem vi os cruzados olhares que entre pernas de frango e gordura de batata frita os dois trocavam! Está visto que este casal só conseguirá ser ridículo nas encomendas que propõe, jamais nas cartas de amor que não escreverá...
A minha ovelha Dolly balyu com o ipsilon de Pessoa e eu saí, com um misto de "sejam felizes" e "que morram decepados pelo til do «a» e a cedilha do «cê»".
E estas coisas, mais graves que qualquer rato a mijar as nossas latas de refrigerante, a ASAE não vê!

sábado, 4 de abril de 2009

Frase do dia


БЫЛ, ЕСТЬ И БУДЕТ ЕСТЬ!

PS - como ninguém lê este blog, a ninguém incomodará que a minha frase de hoje seja em russo e sem tradução.