segunda-feira, 29 de outubro de 2007

United States of America




USA
...e abusa:
Bandeira,
Fast food,
Gente gorda.

In God we trust!

Fuck you fucking fuck!

Puta que os pariu!
(que a mãe deles,
Por mais que queiram,
não é diferente da minha!)

sábado, 27 de outubro de 2007

INSÓNIA

Cortante desliza por mim
O lânguido silêncio da noite,
Abrindo-me chagas na carne
E deixando-me sal nos olhos.
Tal viúva negra
Que tece lentamente
As teias do meu caixão.

Vencida jaz minh’alma por fim!
E a negritude da noite
- como chocolate, puro e amargo -
Derrete-se na boca de Morfeu
Fazendo-o esquecer-se de mim!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Frase do dia

Estou no elevador. Entram duas amigas. Conversam sobre o fim do namoro de uma delas. Pergunta a primeira: Mas tu tens saudades dele?

— Saudades dele? Não, nem pensar!

(pausa)

...eu tenho é saudades de estar com ele...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Minha ama foi um Boca de Sapo

Os meus pais eram uns aventureiros nómadas, sempre viajando de um lado para o outro, sempre em deslocação, fosse em Portugal, Espanha ou França. Assim sendo, a minha infância foi passada dentro de carros em movimento. Eu acompanhava-os sempre nas suas epopeias ciganas. Ah... e como eu gostava dessas epopeias!! Ansiava pelo desconhecido atrás de cada curva da estrada e, qual valente Diogo Cão, sentia correr-me nas veias o sal do mar que não tem donos nem fronteiras.

Chegando a noite, o banco de trás tinha sempre uma mantinha reservada para mim e uma almofadinha para melhor me acolher a cabeça. Sinto até hoje o deleite de acordar e sentir aquele balançar característico do “boca de sapo”. Adorava aquele carro e seu embalo.

Estranhava acordar e estar parada. Normalmente as noites dos meus pais terminava num qualquer bar, boite ou casa noturna de Paris e nessa altura, então, eles deixavam-me já ferrada no sono, a dormir no carro. Mas, apesar do aparente desagrado da falta de balanço, lá voltava eu a adormecer, bem aconchegadinha, no banco traseiro do Boca de Sapo, protegida de todos os males do mundo.

Explico-me a mim mesma com esta história o facto de até hoje adorar dormir em carros, principalmente quando estão em andamento. Dão-me aquela sensação de liberdade, de movimento real no espaço, que a cama alguma, por mais sexo selvagem que prometa, pode dar. Tem dias que fico com uma vontade brutal de voltar àquele carro da minha infância – não tanto por saudosismo (que aqueles tempos foram bons e maus, como os tempos de qualquer infância normal), mas para sentir de novo aquela liberdade despreocupada, única no Universo, pela qual ando a desesperar.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Feliz Aniversário

Há tanta coisa em mim que ficou por dizer, mas que não quer ser dita!

Perdi a vontade de falar, encontrei a inutilidade das palavras e quedo muda perante a indescritível mágoa de não termos dado certo.

Juro que por um tempo pensei que pudesses ser tu a preencher este vazio... este eterno vazio que me acompanha no meio da multidão...

Mas ninguém pode, Pedro. A culpa não é tua. A tua culpa é outra, que não esta. Desta absolvo-te e penitencio-me a mim, pedindo-te, por aqui, que de outro modo não poderá ser, desculpa por ter depositado em ti tal esperança comum.

Só eu, Pedro, só eu poderei preencher o meu vazio. Daí ele ser meu... e não teu!

Gostaria de te telefonar, de te dizer que te quero saber feliz, talvez até pagar-te um copo para comemorar o teu aniversário... quem sabe...

Mas para isso teria que correr um rio entre nós e levar as mágoas para o mar, como diz a canção. E eu não vou mentir: da minha parte elas são muitas.

Parabéns, Pedro. E parabéns à "Xona", que faz um ano nas tuas mãos.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Frase do dia

Frase ouvida hoje da boca de uma senhora bem idosa que conversava com outra, também idosa, mas visivelmente mais nova:
(Local: avenida da Liberdade, à porta do teatro Tivoli. Hora: 2 da tarde)

- Só tem 76 anos??... Ui... Ainda é uma jovem!

Moral da história: os jovens que se cuidem.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Você veio hoje me ver... Adoniran

Tem momentos que sou invadida por esta tristeza cinza que não consigo tranformar em palavras. E quem se permite sentimentos profundos sabe que a tristeza é como o amor: quanto mais forte, mais 'indizível'.

Mas não se julgue que esta é uma daquelas tristezas doentes, sem eira nem beira, que não sabe de onde vem nem para onde vai. Não! A minha tristeza é sempre definida, tem sempre uma causa, normalmente sendo o acumular de várias que, por sua vez, essas sim, são intraduzíveis em língua de gente. Se não como descrever o olhar do cão estropiado depois de uma luta em que sedentos loucos de sangue gritam e em seguida o abandonam com porrada por ter “perdido”? Como descrever a mente das duas irmãs que achavam normal ter relações com o pai, visto este violar ambas havia anos - desde o dia em que a mãe de ambas morreu - e elas não terem conhecido outra realidade desde os 5 e 6 anos respectivamente? Como descrever a mãe que mata o filho à fome? Como descrever as imagens que nestes momentos me povoam a humidade dos olhos doridos do esforço de se manterem secos?

Não, meus amigos (se é que algum amigo lê isto), esta minha tristeza não é aquela tristeza urbano-depressiva pós-moderna da qual quase todos parecem padecer nos dias de hoje. Essa passa com medicamentos, com terapias no psicólogo, com compras no Centro Comercial e, em última análise, com uma dose mortífera de comprimidos.

Eu não me quero matar, não gosto particularmente de andar às compras, tenho pavor de medicamentos e quanto a terapias pagas com hora marcada... bem... não comento.

Eu sei porque estou triste, mas não sei como explicar essa triseza. Nem quero. Não acredito, sinceramente, que a minha tristeza seja maior que a dos outros, cujas causas me parecem ridículas, como ridículo será para os outros o olhar do meu cão e da Rita, aquela menina angolana que no dia de Natal de há uns anos eu vi na televisão por entre os destroços de um bombardeamento efetuado na noite de Natal. A Rita procurava algo por entre as ruinas que tinham sido a sua casa. Seria a boneca de pano que ela procurava? Seria a mãe? Saberia a Rita que aquele era o dia do Amor Universal? Que Cristo tinha nascido?

Não sei... não me lembro. Hoje, passados anos, só me recordo do nome dela... e do olhar. Meu Deus... aquele olhar, como o do cão que vi hoje na fotografia... confuso... que só se sabia vivo porque me olhava... e nada mais.

Os meus colegas de trabalho estão lá dentro, no refeitório, a jantar. Eu não tenho fome. Tal como não tive mais fome nesse Natal. Eu nunca tenho fome quando fico triste.

E que direito tenho eu em estar triste quando a Rita continua a revolver os escombros nos meus pesadelos e o cão já morreu e ainda não sabe? Que problemas tenho eu no universo das Ritas e dos cães? Que não encontro o amor? Que não terei trabalho depois de Dezembro? Que não me realizo profissionalmente? Porque amei e não fui amada? Ora... Que ridícula és, Dina, como ridículas são as cartas de amor que não recebes... nem escreves.

Vai embora, Tristeza, tal como o bicho-papão da minha infância ia embora quando a minha mãe me embalava.

domingo, 7 de outubro de 2007

O cúmulo da solidão

Sabemos verdadeiramente que estamos sozinhos quando comemos sozinhos...

A seguir a um caixão de criança, não deve haver nada mais triste que um só prato na mesa.

Há já algum tempo que só tenho um prato na mesa. E insisto em pô-lo, para não me esquecer que estou cá.

A escolha foi minha. O que prova que até uma optimista como eu faz, por vezes, escolhas bem tristes...

Mas voltar atrás seria condenar-me a jantar acompanhada de comida amarga sem gosto.

Não!... Mil vezes o gosto da solidão...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Os poetas que me perdoem

Às vezes, só às vezes, tenho a mania que sou boa. No restante do tempo sou mesmo.

Independentemente disso nunca atravessei aquele periodo idiota de "Vejam que sentimentos profundos eu derramo num poema de meter inveja a qualquer Pessoa".

Jamais tive crises existenciais de adolescente idiota, nunca achei que "ninguém me ama" nem que alguém me compreenderia. Nunca tive pretensões a ser poetisa. Só a ser aquilo que não podia ser.

Que me perdoem, por isso, os poetas de alma verdadeira por estes desabafos multilíneos, que só o são por preguiça de estarem juntos.



PECADO

Que o único pecado seja abusar do amor alheio
Que sendo pobre, simples e feio
Não deixa de ser amor.

Tudo o resto,
– todo o choro e todo o riso –
São precalços do caminho
Que nos leva ao Paraíso.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Porquê?

Porque somos feitos da Insensatez de falar durante toda a vida e morremos sem dizer a quem se ama, que se ama.

E a quem se detesta, que se detesta...

Que as palavras são para ser ditas
E as letras para ser escritas!