Os meus pais eram uns aventureiros nómadas, sempre viajando de um lado para o outro, sempre em deslocação, fosse em Portugal, Espanha ou França. Assim sendo, a minha infância foi passada dentro de carros em movimento. Eu acompanhava-os sempre nas suas epopeias ciganas. Ah... e como eu gostava dessas epopeias!! Ansiava pelo desconhecido atrás de cada curva da estrada e, qual valente Diogo Cão, sentia correr-me nas veias o sal do mar que não tem donos nem fronteiras.
Chegando a noite, o banco de trás tinha sempre uma mantinha reservada para mim e uma almofadinha para melhor me acolher a cabeça. Sinto até hoje o deleite de acordar e sentir aquele balançar característico do “boca de sapo”. Adorava aquele carro e seu embalo.
Estranhava acordar e estar parada. Normalmente as noites dos meus pais terminava num qualquer bar, boite ou casa noturna de Paris e nessa altura, então, eles deixavam-me já ferrada no sono, a dormir no carro. Mas, apesar do aparente desagrado da falta de balanço, lá voltava eu a adormecer, bem aconchegadinha, no banco traseiro do Boca de Sapo, protegida de todos os males do mundo.
Explico-me a mim mesma com esta história o facto de até hoje adorar dormir em carros, principalmente quando estão em andamento. Dão-me aquela sensação de liberdade, de movimento real no espaço, que a cama alguma, por mais sexo selvagem que prometa, pode dar. Tem dias que fico com uma vontade brutal de voltar àquele carro da minha infância – não tanto por saudosismo (que aqueles tempos foram bons e maus, como os tempos de qualquer infância normal), mas para sentir de novo aquela liberdade despreocupada, única no Universo, pela qual ando a desesperar.
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
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