Para além das grandes coisas que me irritam a mim e a todas as misses Universo (a guerra no Mundo, a fome na Etiópia, os órfãos nos asilos e coisas do estilo) há pequenas coisas que me irritam mais que as próprias misses Universo.
Uma delas diz respeito às pessoas cultas e estúpidas.
Gozem o que quiserem, mas a questão é que eu, pecadora perante vós me confesso, gosto de pessoas cultas! Gosto de quem lê livros, de quem discute sociologia, de quem tem opinião sobre tudo e mais alguma coisa, de quem entende de música ou vê cinema. Gosto de quem gosta de poesia e de outras coisas acabadas em “ia”.
Uma delas diz respeito às pessoas cultas e estúpidas.
Gozem o que quiserem, mas a questão é que eu, pecadora perante vós me confesso, gosto de pessoas cultas! Gosto de quem lê livros, de quem discute sociologia, de quem tem opinião sobre tudo e mais alguma coisa, de quem entende de música ou vê cinema. Gosto de quem gosta de poesia e de outras coisas acabadas em “ia”.
E gosto de pessoas inteligentes. Acima de tudo, pessoas inteligentes.
Para tal basta ver as duas características que me mais me fascinam num homem: inteligência e sentido de humor (para além de uma carinha larocas, preferencialmente parecida com a do Banderas, e de um cheiro que não me traga à memória nenhum equídeo, claro está).
Detesto os palhaços, que riem a torto e a direito das desgraças alheias. Mas adoro aquelas pessoas que conseguem transformar a desgraça, sua e alheia, numa ironia ridiculamente cómica, gosto de quem me faz rir inteligentemente. Gosto de conversar com pessoas que se me apresentem como um desafio intelectual, que me “dêem luta” e por quem eu crie, regra geral inconscientemente, uma relação de admiração. Gosto do intelecto no seu estado puro e acho que é no humanismo e no sentido de humor que ele encontra a sua prova derradeira. Fascina-me quem me fizer rir num funeral sem que para tal atire uma tarte de maçã à cara do defunto. É fácil ser-se inteligente com um teorema matemático: “basta” resolvê-lo. Mas tente ser inteligente com uma boa acção ou com uma piada...
Pois bem, a D. Emengarda, alentejana de gema, dona dos seus orgulhosos 80 anos, apesar de personagem acabada de criar no meu imaginário a quem nunca ensinaram a escrever a não ser o desenho do seu nome, não deixa de ser uma das minhas heroínas. Tenho para mim que a escrita em si nada tem nada a ver com a inteligência! A inteligência, essa, é que pode, ou não, ter a ver com a escrita.
Hão-de pensar que eu estou confundindo inteligência com cultura. Não, não estou. Gosto de pessoas cultas, mas só gosto de pessoas cultas inteligentes. Se separarem a cultura da inteligência, eu fico do lado dos inteligentes que nunca leram um livro. Desprezo, mais que tudo, os cultos estúpidos. São as pessoas mais perigosas e insuportáveis do mundo!
E são altamente nocivos, estes cultos maus: pavoneiam pelas ruas a efémera cultura lambida no último livro comprado em saldos na feira. Nada aprendem sem letras e nada fazem para que os outros aprendam com elas.
A D. Emengarda aprendeu a desenhar algumas letras entre o parto da porca, o amanho da terra, a cozedura do pão, a lide da casa e a mamada do filho. É a sábia que de todos leva o maior quinhão da minha mais sincera admiração! E não se pense que escrevo isto por comiseração à senhora que, coitadinha, apesar de analfabeta tão bem cumpriu o seu papel na vida. Nada disso! Admiro a Sr. Emengarda porque no alto das suas 8 décadas a vejo sábia na inteligência que teve para fazer tudo, para conseguir tudo, para aprender tudo, para pôr todos os dias as migas na mesa. E no fim, quando a terra lhe chegar à pele, saberá dela o que ela lhe ensinou.
A D. Emengarda aprendeu a desenhar algumas letras entre o parto da porca, o amanho da terra, a cozedura do pão, a lide da casa e a mamada do filho. É a sábia que de todos leva o maior quinhão da minha mais sincera admiração! E não se pense que escrevo isto por comiseração à senhora que, coitadinha, apesar de analfabeta tão bem cumpriu o seu papel na vida. Nada disso! Admiro a Sr. Emengarda porque no alto das suas 8 décadas a vejo sábia na inteligência que teve para fazer tudo, para conseguir tudo, para aprender tudo, para pôr todos os dias as migas na mesa. E no fim, quando a terra lhe chegar à pele, saberá dela o que ela lhe ensinou.
A quantos de nós será a morte tão natural como deve ser?...
No entanto, enquanto cá anda, que a morte mafarrica não a há-de levar já, a D. Emengarda ri-se, desdentada, dos maus tratos que deu aos dentes e da vida que ainda não a conseguiu gelar por falta de lenha ou de homem.
Gosto de pessoas que me excitem intelectualmente, seja com um texto da Beauvoir ou com um raio de sol laranja-avermelhado que entrou descuidadamente pela fresta da janela.
Gosto da inteligência. Gosto do riso. E gosto dos bácoros que as porcas da D. Emengarda pariram.
Gosto de pessoas que me excitem intelectualmente, seja com um texto da Beauvoir ou com um raio de sol laranja-avermelhado que entrou descuidadamente pela fresta da janela.
Gosto da inteligência. Gosto do riso. E gosto dos bácoros que as porcas da D. Emengarda pariram.
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