Pensem bem: o que é que todos os telefilmes americanos têm em comum, para além da bandeira a ondular ao vento, das gajas magras que acordam maquilhadas e dos psicopatas que querem ser apanhados pela polícia?
O que é que acontece sempre que um norte americano se aproxima de outro norte americano? - Pois bem, o norte americano que se aproxima fará impretrivelmente ao norte americano que é abordado a pergunta mágica:
«- Do you want to talk about it?».
Vamos lá a ver se nos entendemos: eu não tenho nada contra as pessoas que querem saber da vida dos outros. Se não vamos saber da vida dos outros, vamos saber do quê?
O que me irrita profundamente, com uma irritação figadal, é o psicólogo frustado que vive dentro de cada americano!
Ontem, em mais um desses episódios de uma dessas séries de um desses canais, o amigo A ao ver uma ruga expressiva na testa da amiga B, aproxima-se, ficando no entanto à distância suficiente para não invadir o politicamente correcto espaço íntimo dela, e dispara «Do you want to talk about it?», ao que a amiga sorri e, como é da praxe nesta situação, põe-se a encher chouriços, que é o mesmo que dizer, muda de conversa e fica a melancolicamente a falar da esterelidade das palavras fúteis, já que o mistério da sua dor enrugada ainda teria de render uma meia-horita de filme.
E renderia, se a melancolia não fosse uma ameaça de estado num país que só vê com bons olhos as lágrimas da estagiária com esperma no vestido derramado na sala oval. Think Positive!Ah... nada como uma tragédia dinamarquesa para nos emudecer a alma. Veja-se o «Breaking the Waves», por exemplo, e depois venham-me cá perguntar se quero falar disso!Por puro exercício mental, imagino cena idêntica num qualquer canto do território luso:
Chega-se o tuga A à beira da tuga B:
Decididamente falar «disso» é coisa que os portugueses não sabem! Deve ser por «isso» que também não sabem fazer filme...
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