sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Dia da Morte de José Saramago

Hoje não era dia para eu escrever aqui, mas há dias que não são para a coisas que têm de ser. São dias para se continuar com a inutilidade das coisas importantes sem dia nem hora marcada que não podem perder 5 minutos da vida para me deixarem escrever aqui. Há dias assim, que marcam nos olhos o escuro da alma. Dias iguais aos outros que, sem mudarem, nos mudam, como o de hoje. O dia de hoje mudou-me de dia, mudou-me a mim, ter-me-á, quiçá, que estas palavras em extinção tem de ser usadas para continuar em desuso, mudado a vida? Nunca ninguém público, como se nós privados fôssemos, me doeu tanto morrer como o parar do suspiro teu, a quem os pais ou, talvez, - não sejamos repetitivos com o quiçá - um padre bêbedo, que nisto dos nomes, de todos os nome, nunca se sabe, deram a graça de José. Nome simples, pouco dado a estrelato, de homem simples. Homem de amores e de ódios, de paixões, homem de cara e punho cerrados, mas mão aberta sobre o papel-ferramenta da qual fez bomba lírica, homem, que não abria a boca ao sabor do vento, como a minha, pecadora sem credo, mas ao sabor do sabor das coisas sérias da alma e do corpo. Homem aberto ao mundo, ao humano, aos dedos na escrita, aberto ao vazio da letras que deixa a preencher as várias vidas que todos viveremos, por menos ou mais que vivamos, que isto da vida nada mais é que letras de dias e de meses onde se vai, naturalmente, escrevendo o nosso nome, traço a traço, até ao fim do apelido. Hoje, na minha vírgula pôs-se o ponto final do teu nome Saramago. Pois que seja uma vírgula a mudar-me, que saudades tua não terei: tenho cá a tua escrita para as horas do impacientes folhear dos meus dedos. Adeus, meu amigo, permite-me que assim te chame, pois inimigos não fomos e meios-amigos não há, que isso de meias palavras nunca fez parte do teu dicionário, pelo que amigos seríamos, com certeza.

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